A Organização Mundial da Saúde estima que 190 milhões de mulheres em todo mundo tenham endometriose. “Desse total, entre 7 a 10 milhões são brasileiras e mais da metade que têm a enfermidade relatam dores recorrentes em forma de cólica, fadiga, diarreia ou dificuldade para engravidar”, explica Rodrigo Berger, membro da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Paraná.
A doença é uma modificação no funcionamento normal do organismo em que as células do tecido que reveste o útero (endométrio) – em vez de serem expulsas durante a menstruação – se movimentam no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde voltam a multiplicar-se e a sangrar. O problema tende a trazer ainda mais desconforto para as mulheres no verão uma vez que sangramentos podem trazer pressão baixa.
“Existem mulheres que têm endometriose e não apresentam sintomas. A doença é descoberta quando elas vêm tirar dúvidas sobre a dificuldade para engravidar. Na investigação feita por videolaparoscopia, encontramos lesões superficiais que muitas vezes não aparecem na ressonância da pelve ou em outros exames”, observa Rodrigo Berger, que é diretor técnico do Grupo Medless; que desenvolve pesquisas e tratamentos de saúde para mais de 15 patologias e doenças femininas.
Por esse motivo, o médico recomenda que as mulheres visitem um ginecologista já a partir da primeira menstruação. “O ideal é ir ao especialista pelo menos uma vez por ano. Todas essas situações interferem no ciclo menstrual e em possíveis complicações à saúde ao longo da vida”.
O ginecologista lembra que o período do climatério – momento de transição em que a mulher passa da fase reprodutiva para a fase de pós-menopausa – também requer atenção. “Não é porque a mulher parou de menstruar que ela deve abandonar os exames preventivos. Esta é uma época importante para avaliar os níveis hormonais evitando decréscimo de qualidade de vida”, enfatiza.
Tratamentos
A indicação do tratamento mais adequado a cada mulher diagnosticada com endometriose vai depender de diversos fatores que incluem desde a idade, a gravidade e localização das lesões, a intensidade dos sintomas, o desejo reprodutivo, entre outras questões.
“Cada caso é único, mas atualmente já podemos controlar a endometriose sem a necessidade de medicação ou intervenção cirúrgica. Entram como coadjuvantes no tratamento dietas anti-inflamatórias e ações que contribuam para a diminuição do estresse”, diz Berger.
“Outra possibilidade – sempre de acordo com a indicação de um médico especialista – é o uso de implantes hormonais. No Brasil, já existem dispositivos que são implantados sob a pele e permanecem ali, por até 12 meses, liberando pequenas quantidades do fármaco, prescrito anteriormente pelo médico da paciente”, complementa o médico ginecologista.
“Nesses casos, a dose é feita de acordo com a necessidade individual de cada paciente e a liberação das substâncias medicamentosas acontece diretamente na corrente sanguínea, diminuindo complicações no sistema digestivo, hepático e demais efeitos colaterais associados”, destaca Rodrigo Berger.
Vida nova
A agente de atendimento aeroportuário Mariane Motta Machado, passou cerca de um ano com dores intensas abdominais e buscou mais de um profissional até obter o diagnóstico preciso de endometriose. “Vivia todos os dias sentindo cólicas muito fortes e não tinha remédio que fizesse parar. Além da dor, tive ganho de peso, me sentia cansada e indisposta”, conta.
Mariane teve recomendação de passar por cirurgia, mas optou pela linha dos implantes hormonais subcutâneos. “Sinto diferença em inúmeros pontos que nem imaginava que me afetavam por causa da endometriose. Estou há mais de três meses com os implantes e desde a primeira semana, já não senti nenhuma cólica”, enfatiza.
“Sentir dor não é normal. É por esse motivo que sempre recomendamos às mães para que fiquem atentas aos ciclos menstruais das filhas e para que também não normalizem a própria dor. O diálogo com um especialista pode trazer ganhos para uma vida toda”, complementa o ginecologista.