Como o empresário imagina o futuro do trabalho?

Por Wilson Míccoli

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Quando se pensa como um empresário imagina a continuidade do seu trabalho no Brasil, esta pergunta certamente vai levar a uma resposta interessante. É uma equação complexa, na qual as variáveis para a tomada de decisão são imprevisíveis. Isso faz do empresário um malabarista, um herói com grande criatividade para manter seu negócio funcionando.

No Brasil, a todo momento o empresário é submetido a surpresas, seja com relação à política, seja em função de tributações, legislações, mudanças governamentais etc. A cada dia as adversidades aparecem como desafios constantes. Imprevistos de todos os tipos chegam como obstáculos, barreiras testando sua capacidade de sobrevivência.

Quando nos focamos em ameaças externas, vemos empresários, em um passado recente, unidos para pressionar o governo e exigir deste que exercesse sobretaxas aos produtos chineses em geral, no intuito de proteger a empresa nacional. Essa medida hoje em dia não é mais eficaz, pois seus produtos estão em todos os lugares e o e-commerce (comércio eletrônico) facilita a sua entrada em nosso mercado. O que é eficaz é a concorrência competente, com preços e qualidade.

No Brasil, como um país de governo com perfil mais alinhado a demandas de sindicatos de trabalhadores, é natural que as exigências por direitos excedam as visões focadas em deveres. Os gestores devem estar qualificados a gerenciar tais demandas, evitando dificuldades de relacionamento que podem criar diversos tipos de passivos trabalhistas, os quais poderiam ser proativamente evitados.

Uma das ferramentas utilizadas por minha empresa, a Plena Soluções Empresariais Ltda., a PROLAW© – PROACTIVE LAW, tem como finalidade diagnosticar, de maneira proativa e diversificada, possíveis passivos judiciais, , tais como o trabalhista e outros enquadrados nos demais ramos do Direito. Pode-se diagnosticar de forma proativa uma empresa ou alguns de seus setores com coordenação de um advogado e a participação multidisciplinar de especialistas de outras áreas, traçando assim um perfil de risco das atividades exercidas nesses setores.

Sobre o tema tecnologia, são frequentes os casos dos  empresários relatando avanços tecnológicos conservadores, apresentando dificuldades com investimentos e com carência de mão de obra especializada nessa área. Esses ainda se apresentam resistentes ao emprego de novas tecnologias. As diversas formas de tecnologia surgem para alavancar sua competitividade, e empresas que fazem uso eficaz estão sempre à frente dos seus respectivos segmentos de negócio.

Em países como Alemanha,  o comportamento dos empresários é surpreendente no que se refere à tecnologia. Ela é considerada como um pilar necessário para a sobrevivência e crescimento.

Mas tecnologia demanda altos níveis de qualificação de gestores e colaboradores da operação. Um corpo gestor que não se apresenta suficientemente qualificado ou receptivo a novas formas de produzir ou às inovações tecnológicas, não atinge o sucesso. O corpo gerencial necessita compreender organicamente o desenvolvimento dos processos em constante mudança, o que permite uma concorrência forte e adequada no mercado em que vivemos.

As atividades que não agregam valor corroem a lucratividade de uma empresa, fazendo com que ela sofra perdas econômicas, reduzindo seus ganhos. No Brasil, os níveis de agregação de valor, de uma forma geral, não ultrapassam 15%. Mesmo nas multinacionais esse número ainda é baixo.

O Brasil não é a melhor referência para a cultura de orientação para o cliente, onde os colaboradores da empresa, de maneira geral, entendem seus setores como empresas menores nas quais o maior cliente é o chefe e não como aquele que paga os seus salários.

Em um jantar na Alemanha com um fornecedor de máquinas especiais, ao meu lado sentou-se um jovem que, dirigindo-se a mim, perguntou se eu o conhecia. Eu respondi que ele me parecia familiar e perguntei de onde ele vinha. Ojovem me respondeu: “eu trabalho na mesma empresa que o senhor. Sou o faxineiro que limpa o piso na área onde as máquinas são montadas. Ele me disse, então, que naquela empresa todos eram considerados representantes perante os clientes e que, embora fosse o faxineiro, tinha autorização para estar no mesmo jantar que os diretores e os clientes.

Este é um exemplo de mentalidade em uma empresa que desenvolve um paradigma nos colaboradores,  segundo o qual o cliente é o que vem em primeiro lugar.

Outro paradigma interessante é o comportamento dos japoneses com relação aos problemas do dia a dia. Problemas são considerados, em todos os níveis, como oportunidades de melhoria, trazendo um aprendizado para melhorar seus resultados. Os japoneses demonstram um comportamento interessante, a saber: a  presença maciça de especialistas e gestores no piso da fábrica. Esta situação nos mostra como os problemas são resolvidos de maneira simples em seus locais de origem, o que os japoneses chamam de Gemba, ou o local onde as coisas estão acontecendo. A utilização do tempo na solução de problemas no Japão demonstra grande eficácia quando comparada com o Brasil.

Em minha vivência como executivo ou como consultor no Brasil, com empresas multinacionais ou brasileiras, a utilização do tempo ainda merece uma atenção especial. Reuniões realizadas no Brasil ainda são longas e sua eficácia é baixa. Participei de reuniões no Japão em que essas eram surpreendentemente curtas e com poucas pessoas e voltadas à solução eficaz de problemas. A utilização eficaz do tempo trará, em todos os setores e para todo o corpo gerencial, de analistas e de operação, uma produtividade satisfatória.

O futuro do trabalho pode, sim, ser visto como desafiador e imprevisível, mas para que haja sucesso das empresas no Brasil, sejam elas multinacionais ou não, o foco deverá ser produtividade e qualidade em todos os setores.

*Wilson Míccoli é mestre, doutor e pós doutor (PhD) em projetos e está cursando um segundo pós-doutorado na área de Telecomunicações e TI

Sobre a AHK Paraná – Estimular a economia de mercado por meio da promoção do intercâmbio de investimentos, comércio e serviços entre a Alemanha e o Brasil, além de promover a cooperação regional e global entre os blocos econômicos. Esta é a missão da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), entidade atualmente dirigida pelo Conselheiro de Administração e Cônsul Honorário da Alemanha em Curitiba, Andreas F. H. Hoffrichter.

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