A novela “A Viagem”, um clássico da teledramaturgia brasileira exibido originalmente em 1994, cativou o público com sua trama que entrelaça o mundo dos vivos e dos mortos, abordando temas como possessão espiritual, céu, inferno e a comunicação entre diferentes planos existenciais. Esses elementos, embora ficcionais, despertam curiosidade e, por vezes, até receio em quem não está familiarizado com a doutrina espírita.
Contudo, a autora Ivani Ribeiro, ao construir a narrativa, inspirou-se em obras fundamentais do espiritismo, como “E a Vida Continua…” e “Nosso Lar”, de Chico Xavier, além de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” e “O Livro dos Médiuns”, de Allan Kardec. Essa base doutrinária confere à trama uma dimensão que vai além da ficção, retratando conceitos e princípios importantes da fé espírita.
Para desmistificar o que é real e o que é fruto da imaginação na novela, a CNN Brasil convidou Sula Galvão, estudiosa do espiritismo, para esclarecer algumas questões. Prepare-se, pois este artigo contém spoilers para quem ainda não assistiu “A Viagem”, revelando cenas cruciais da reta final da história.
Um dos pontos centrais abordados na novela é a representação do céu e do inferno. No espiritismo, o inferno é compreendido como o umbral, um estado de espírito onde se encontram almas ainda não preparadas para a evolução espiritual após a morte.
**Céu e Umbral: Estados de Consciência, Não Lugares Físicos**
Sula Galvão explica que, na doutrina espírita, céu e inferno são, antes de tudo, “estados de espírito, o estado da nossa alma”. Ela detalha que a experiência do céu ou do inferno pode ser vivida durante a encarnação, influenciada pelas escolhas, sentimentos e ações do indivíduo. “Criamos o nosso céu ou o nosso inferno”, resume.
As representações visuais do céu, com seus gramados e interações sociais, e do umbral, com suas cenas sombrias, são consideradas “uma romantização necessária para que a mente humana consiga compreender o que encontrará ao deixar o corpo físico”, segundo a especialista. Essas imagens auxiliam na compreensão da vida no plano espiritual, com suas colônias e interações.
As colônias espirituais, como a famosa “Nosso Lar”, são criações coletivas de espíritos evoluídos para acolher os recém-desencarnados, funcionando como cidades com infraestrutura semelhante à da Terra. No entanto, Sula Galvão ressalta que “as colônias não são permanentes. São provisórias”, servindo como um ponto de transição para o espírito se desapegar da matéria e compreender sua nova realidade.
**Comunicação com o Mundo Espiritual: Influência, Não Domínio**
Outro tema recorrente na novela é a interação entre espíritos e encarnados. Ao contrário da ideia de “possessão”, o espiritismo prega que os espíritos “se aproximam e fazem uma conexão com o nosso corpo astral”, influenciando-nos através de centros de energia chamados chacras.
Essa influência ocorre quando há afinidade entre o espírito e o encarnado, permitindo que o primeiro exerça certo grau de comando sobre o comportamento do segundo. Sula Galvão enfatiza que “o espírito não ‘pula’ sobre alguém e assume o controle sem que haja sintonia”, mas sim que a conexão se estabelece por meio da compatibilidade vibracional.
**A Mediunidade: Uma Faculdade Inerente ao Ser Humano**
A novela também explora a mediunidade, a capacidade de sentir a presença e a influência dos espíritos. Sula Galvão esclarece que “toda pessoa que sente, em qualquer grau, a influência dos espíritos é considerada médium”, sendo essa faculdade inerente ao ser humano e não um privilégio exclusivo.
Em momentos de transição planetária, como o atual, a sensibilidade espiritual se intensifica, tornando mais comum a percepção e a influência dos espíritos na vida cotidiana. No entanto, é importante lembrar que essa comunicação se dá por meio do pensamento e da sintonia vibracional.
**A ‘Porta Aberta’ Entre os Mundos: Uma Questão de Sintonia**
Sula Galvão explica que essa “porta aberta” é, na verdade, o nosso pensamento. É por meio do pensamento que conseguimos criar essa proximidade com o mundo espiritual. “Não existe uma ‘porta’ literal, como um portal que se abre. É tudo energia e sintonia”, conclui a estudiosa.
Fonte: http://www.cnnbrasil.com.br