Em 2025, o Brasil deverá estar atento aos efeitos do fenômeno La Niña. As vazões naturais afluentes armazenáveis estão muito baixas, com previsão para o final de maio de 74% na região Sudeste, 30% na região Sul, 43% na região Nordeste e 55% na região Norte, segundo estudos do Operador Nacional do Sistema.
Essa baixa afluência, se mantida, vai acarretar redução nos níveis dos reservatórios e impactar diretamente o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), indicador que serve de base para as transações no mercado de curto prazo. Entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, o PLD médio foi de R$ 60/MWh, mas em fevereiro esse valor já se aproximava de R$ 85/MWh nos submercados Sul e Sudeste. As previsões de valor para as próximas semanas se aproximam de R$ 275,00/MWh, espelhando a realidade das afluências mencionadas acima.
“É muito importante que as térmicas sejam acionadas de forma preventiva, para que não haja o deplecionamento excessivo dos níveis dos reservatórios, ainda que isso eleve os custos da energia produzida”, alerta Sidney Simonaggio, consultor especializado em energia.
O acionamento de termelétricas, que serve como alternativa em momentos de baixa hidrologia, representa um salto significativo no custo da geração. Enquanto a energia hídrica gira em torno de R$ 100/MWh, a termelétrica pode ultrapassar R$ 1.000/MWh, dependendo da fonte e do combustível.
“Não se trata apenas de uma decisão técnica, mas de uma escolha estratégica. Ativar termelétricas é sempre custoso, mas não ter energia pode custar muitas vezes mais caro. O não acionamento das usinas térmicas é uma aposta que não pode ser feita”, explica Simonaggio.
A expectativa para os próximos meses é de agravamento da situação, caso as condições hidrológicas não melhorem. Segundo estimativas da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), o PLD pode ultrapassar R$ 300/MWh entre julho e outubro, e chegar a R$ 400/MWh em cenários mais críticos, o que pode resultar na aplicação de bandeiras tarifárias mais caras para os consumidores.
* Sidney Simonaggio é especialista em energia com 45 anos de experiência no setor elétrico, incluindo atuação como CEO, COO, CRO, consultor e conselheiro de diversas empresas brasileiras do ramo, e contribuições significativas para o desenvolvimento e regulação da transmissão e geração de energia no Brasil.