O volume de produtos chineses desembarcando no Brasil atingiu um patamar histórico nos primeiros cinco meses do ano, desencadeando um alerta vermelho no governo. Diante desse cenário, medidas de defesa comercial estão sendo intensificadas para mitigar possíveis impactos negativos na indústria nacional.
A crescente tensão comercial entre China e Estados Unidos intensifica a preocupação das autoridades brasileiras. O temor é que o Brasil se torne um destino preferencial para o redirecionamento das exportações chinesas, buscando alternativas aos mercados afetados pelas disputas globais.
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, enfatizou a atenção redobrada do governo sobre o fluxo de importações. “A indústria precisa estar atenta para que esse movimento não resulte numa enxurrada de produtos seja despejada no Brasil. Estamos com uma lupa nas importações. É defesa comercial total. Não é protecionismo, mas sim proteção legítima”, declarou Alckmin durante um evento do setor industrial.
Dados oficiais revelam que, de janeiro a maio, as importações brasileiras de produtos chineses somaram US$ 29,5 bilhões, um salto de 26% em relação aos US$ 23,3 bilhões registrados no mesmo período do ano anterior. Em contrapartida, as exportações brasileiras para a China sofreram uma queda de aproximadamente 10% no mesmo período, intensificando o desequilíbrio.
Um fator atípico contribuiu para agravar esse cenário: a importação de uma plataforma de petróleo chinesa, avaliada em US$ 2,6 bilhões, em fevereiro. Esse tipo de compra pontual teve um impacto significativo na balança comercial, levando o Brasil a registrar um raro déficit de US$ 300 milhões naquele mês.
Entre os produtos importados com maior destaque, insumos químicos e fertilizantes apresentaram um aumento expressivo, com as compras praticamente dobrando no período. Além destes, compostos organo-inorgânicos e heterocíclicos, utilizados na fabricação de medicamentos, defensivos agrícolas e aditivos industriais, também registraram alta.
Apesar do aumento generalizado, o governo concentra sua atenção nas importações de aço e veículos elétricos chineses. Estes setores são considerados cruciais para a indústria nacional e demandam maior proteção comercial.
A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) tem defendido a antecipação do aumento da tarifa de importação de veículos elétricos, atualmente em 18%, para 35% em julho de 2026. Paralelamente, a China pressiona por uma redução das tarifas, mas até o momento não obteve resposta do governo.
As importações de aço, já uma preocupação constante da indústria brasileira, ganharam novos contornos após a imposição de tarifas de importação pelo governo do então presidente Donald Trump. Essa medida intensificou o temor de que a China busque mercados alternativos, como o Brasil, para escoar seu excedente de produção.
Em resposta a essas preocupações, o Departamento de Defesa Comercial (Decom) do MDIC abriu uma investigação abrangente sobre as exportações de 25 grupos de produtos siderúrgicos da China. Esta é a maior investigação já realizada pelo Decom em termos de variedade de produtos envolvidos.
A investigação tem como objetivo identificar a prática de dumping, que ocorre quando um país vende produtos no exterior a preços inferiores aos praticados internamente. A apuração foi oficializada no Diário Oficial da União, sinalizando o compromisso do governo em proteger a indústria nacional.
Adicionalmente, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) renovou a alíquota de 25% do imposto de importação para 19 tipos de aço e a estendeu para outros quatro códigos NCM. Essa medida, com validade de 12 meses, visa fortalecer a proteção da indústria nacional contra a concorrência desleal.
Fonte: http://www.cnnbrasil.com.br