O câncer de mama continua sendo uma das principais causas de morte entre mulheres em todo o mundo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 2,3 milhões de novos casos são diagnosticados anualmente. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) projeta mais de 73 mil novos diagnósticos para 2025, ressaltando a urgência de avanços no tratamento.
Apesar dos desafios, a oncologia vive um momento otimista, com descobertas recentes que ampliam o período de controle da doença e abrem perspectivas de cura em casos antes considerados incuráveis. Esses avanços, apresentados no congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), maior evento global da área, prometem transformar o cenário do tratamento.
As estratégias de tratamento do câncer de mama evoluíram consideravelmente, abrangendo cirurgia, radioterapia e terapia sistêmica. A terapia sistêmica, composta por medicamentos, desempenha um papel crucial no aumento das chances de cura. Segundo o oncologista Rafael Kaliks, “Ao tratá-los com a droga mais adequada, aumentamos significativamente a cura das pacientes”.
Nos estágios iniciais, os tratamentos estão se tornando menos invasivos e mais eficazes, com cirurgias menores e menos necessidade de radioterapia. Já nos quadros avançados, novas drogas vêm prolongando a sobrevida e oferecendo mais qualidade de vida às pacientes, marcando uma mudança de paradigma.
A seguir, destacamos três resultados promissores apresentados no Asco, que representam avanços significativos no tratamento do câncer de mama, com foco em estratégias mais individualizadas e novas moléculas que ampliam o tempo de controle da doença.
Um dos estudos mais comentados da Asco avaliou se trocar o tratamento antes que o câncer dê sinais de avanço pode fazer diferença. O ensaio clínico SERENA-6 acompanhou mulheres com câncer de mama metastático do tipo ER+ e HER2 negativo, utilizando biópsia líquida para identificar mutações no gene ESR1, indicativas de resistência ao tratamento hormonal.
Quando a mutação aparecia, metade das pacientes trocava de medicação, passando a tomar o camizestranto, uma droga oral ainda em fase de testes. Os resultados mostraram que antecipar a troca teve efeito positivo: entre as mulheres que mudaram de terapia, a doença se manteve controlada por 16 meses, em média, contra 9,2 meses no grupo que seguiu com a abordagem tradicional.
Ainda de olho nas mutações do gene ESR1, outro estudo clínico testou o vepdegestrant, uma nova droga oral que age de forma diferente dos medicamentos atuais, destruindo o receptor de estrogênio dentro da célula. Pacientes que usaram a nova droga conseguiram controlar a doença por cinco meses, em média, contra 2,1 meses com o tratamento tradicional.
Um dos tratamentos mais eficazes para o câncer de mama HER2 positivo metastático combina precisão e potência, direcionando a quimioterapia diretamente às células doentes. Essa é a proposta dos anticorpos droga-conjugados (ADCs), também apelidados de “drogas inteligentes”.
Novo estudo apresentado no Asco avaliou o uso dessa tecnologia logo no início do tratamento da doença metastática. O resultado foi expressivo: o risco de progressão da doença ou morte caiu 44% em comparação ao tratamento padrão. Em todos os grupos acompanhados, a doença foi controlada por mais de três anos (mediana de 40 meses).
Embora o entusiasmo seja grande, a distância entre inovação e realidade clínica ainda é um desafio. O caminho até que uma nova terapia esteja disponível na prática envolve etapas regulatórias, análises de custo-efetividade e negociações com os sistemas público e privado.
Mesmo medicamentos já aprovados pela Anvisa nem sempre chegam à população com a rapidez necessária. Rafael Kaliks resume: “O câncer de mama, que já é uma doença altamente curável, vai passar a ser ainda mais curável”. A cura pode se tornar uma possibilidade real para algumas pacientes com doença metastática num futuro não tão distante.
Fonte: http://www.cnnbrasil.com.br