O colunista do Metrópoles, Ricardo Noblat, foi alvo de monitoramento por uma estrutura clandestina da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. A revelação consta em relatório da Polícia Federal (PF), cujo sigilo foi levantado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no âmbito da investigação sobre a chamada Abin Paralela.
O relatório da PF aponta que a Abin Paralela monitorou ilegalmente autoridades dos Três Poderes, jornalistas e servidores públicos entre fevereiro de 2019 e abril de 2021. No caso de Noblat, as consultas ocorreram em 23 de julho de 2020 e duraram cerca de três horas. A esposa do jornalista, Rebeca Scatrut, também foi alvo das buscas, de acordo com a PF.
Segundo a investigação, as buscas por informações sobre Noblat tiveram início na manhã em que ele publicou uma matéria com críticas ao então presidente Jair Bolsonaro e a militares de seu governo. A Polícia Federal detalha que o monitoramento ocorreu enquanto Noblat ainda escrevia para a Revista Veja.
Ricardo Noblat expressou sua surpresa e preocupação com a notícia, comparando a situação com o período da ditadura militar. “Isso me lembra muito o tempo da ditadura. Embora tenha sido uma ação atribuída a um governo que atuava em um período democrático, na época do regime militar de 64 isso era algo muito comum”, afirmou o jornalista.
Noblat enfatizou que o episódio serve como um alerta para a fragilidade das instituições democráticas. “Ver isso se repetir depois de 40 anos de democracia restabelecida no país serve de alerta para quem acha que nossas instituições estão sólidas, resistentes, imunes a retrocessos. Eu acredito que as instituições são fortes, mas também que a democracia, em todo o mundo, está ameaçada e enfraquecida.” Ele também questionou a lógica de monitorar jornalistas, já que o trabalho da imprensa é público e acessível a todos.
Além de Noblat, a Abin Paralela realizou milhares de consultas de geolocalização, atingindo diversas linhas telefônicas e monitorando ilegalmente adversários políticos, servidores públicos e outros jornalistas. Entre os alvos estavam ministros do STF, parlamentares e ex-governadores, como Alexandre de Moraes, Arthur Lira e João Doria.
As investigações revelaram que as operações da Abin Paralela ocorreram de forma clandestina, sem registros documentais e fora de qualquer controle institucional. O sistema “First Mile” foi utilizado para rastrear a localização dos alvos em tempo real, com tentativas de ocultação de provas por meio da exclusão de registros eletrônicos.
Fonte: http://www.metropoles.com