A taxa básica de juros do Brasil, a Selic, alcançou 15% ao ano, o maior nível desde julho de 2006, após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC). A medida, anunciada nesta quarta-feira (18/6), gerou fortes reações políticas e frustrou as expectativas do governo em relação à política monetária.
A decisão unânime do Copom de elevar a taxa de 14,75% para 15% representa a sétima alta consecutiva dos juros. Esse ciclo de aperto monetário teve início em setembro de 2024, quando o comitê interrompeu o ciclo de cortes e elevou a Selic de 10,50% para 10,75% ao ano.
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação. Ao aumentar os juros, espera-se reduzir o consumo e os investimentos, tornando o crédito mais caro e desaquecendo a atividade econômica. O objetivo é conter a inflação, especialmente no setor de alimentos, que tem sido um desafio para o governo.
Projeções recentes indicam que o mercado não espera que a taxa de juros volte a um patamar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula e o mandato de Gabriel Galípolo à frente do BC. A próxima reunião do Copom está agendada para os dias 29 e 30 de julho.
Apesar das críticas anteriores aos altos patamares da Selic, o presidente Lula tem adotado um tom mais ponderado em relação à taxa, mesmo com Gabriel Galípolo, sua indicação, na presidência do Banco Central. No início de junho, Lula afirmou que a alta na taxa de juros já era esperada pelo governo.
“O que está acontecendo já estava precificado, a gente já sabia que isso ia acontecer. Então, o que nós estamos conscientes é de que a inflação está controlada, o preço dos alimentos começou a cair e eu acho que logo, logo, o Banco Central vai tomar a atitude correta de abaixar o juros”, declarou Lula.
Entretanto, a nova alta da Selic frustrou o governo. Parlamentares da base governista expressaram críticas contundentes às novas taxas de 15%. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias, classificou a decisão como “indecente, proibitiva e que desestimula investimentos produtivos”, destacando que a medida transforma o Brasil em um “paraíso dos rentistas”.
Rogério Correia (PT-MG), presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, ressaltou o impacto financeiro da Selic nos cofres públicos, estimando que cada ponto percentual da taxa custa R$ 38 bilhões. “Esse dinheiro vai direto para os bancos, para o sistema financeiro e para os juros da dívida”, afirmou.
Apesar do aumento, o Copom indicou que deve interromper o ciclo de alta da Selic, embora a taxa deva permanecer em um patamar elevado por um “período bastante prolongado”, conforme comunicado divulgado pelo órgão. O BC ressaltou que as expectativas de inflação para 2025 e 2026 ainda estão acima da meta.
Enrico Gazola, economista do Insper e sócio-fundador da Nero Consultoria, avalia que a mensagem do Copom é clara: sem uma âncora fiscal confiável, o juro continuará sendo o principal instrumento para atingir a meta de inflação, mesmo que isso signifique sacrificar o crescimento econômico. “A bola volta agora para o Executivo e o Congresso”, conclui Gazola.
Carla Beni, economista e professora da FGV, destaca a mudança no patamar da taxa real de juros, que passou de 4,5% a 5% antes da pandemia para 9% atualmente. Segundo Beni, essa mudança sinaliza uma priorização do controle da inflação em detrimento do lado real da economia, indicando uma possível alteração na métrica do Banco Central.
Em relação ao futuro, Beni sugere que, embora um aumento de 0,25 ponto percentual possa ter um impacto limitado, ele sinaliza uma mudança de trajetória. “Então, a trajetória de elevação de juros diminuiu a sua potência. Ou seja, provavelmente, a próxima reunião já poderia trabalhar com a manutenção dos 15%, que é o chamado viés neutro”, conclui a economista.
Fonte: http://www.metropoles.com