Uma pesquisa recente reacende a esperança na luta contra o Alzheimer. Cientistas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, descobriram que o lemborexant, medicamento já utilizado para tratar a insônia, demonstrou potencial para proteger o cérebro contra o acúmulo da proteína tau, um dos principais marcadores da doença neurodegenerativa. O estudo pré-clínico, realizado em camundongos, aponta para uma nova abordagem no tratamento do Alzheimer, focando em mecanismos diferentes dos já existentes.
Os pesquisadores, cientes da relação entre a má qualidade do sono e o Alzheimer, investigaram os efeitos do lemborexant, um depressor do sistema nervoso central. Os resultados, publicados na revista científica Nature Neuroscience, indicam que o medicamento não apenas melhorou o sono dos animais, mas também reduziu significativamente os níveis da proteína tau em seus cérebros. Essa descoberta abre novas perspectivas para o desenvolvimento de terapias mais eficazes.
O Alzheimer é uma doença progressiva que afeta a memória e outras funções cognitivas, sendo a forma mais comum de demência em idosos. Embora a causa exata ainda seja desconhecida, a genética parece desempenhar um papel importante. Os primeiros sinais geralmente incluem perda de memória recente, evoluindo para sintomas mais graves como confusão, irritabilidade e dificuldades na comunicação.
O lemborexant, aprovado nos Estados Unidos em 2019 para o tratamento da insônia, está atualmente sob análise da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil desde 2022. Uma pesquisa anterior da Universidade de Oxford já havia apontado o fármaco como o mais eficaz e tolerável entre 36 medicamentos para o sono, avaliados ao longo de 40 anos.
De acordo com o neurologista David Holtzman, um dos autores do estudo, os tratamentos atuais para o Alzheimer atuam principalmente contra a proteína beta-amiloide, mas não retardam a progressão da doença de forma ideal. “Precisamos de maneiras de reduzir o acúmulo anormal da proteína tau e a inflamação que o acompanha, e vale a pena analisar mais a fundo esse tipo de auxílio para dormir”, disse Holtzman em comunicado.
Os cientistas observaram que o lemborexant reativou até 40% mais volume no hipocampo, região do cérebro crucial para a memória, em comparação com camundongos que receberam zolpidem (outro medicamento para dormir) ou nenhum tratamento. “Mostramos que o lemborexant melhora o sono e reduz a tau anormal, que parece ser o principal fator responsável pelos danos neurológicos observados no Alzheimer e em vários distúrbios relacionados”, enfatiza Holtzman.
Apesar de ambos serem medicamentos para dormir, o lemborexant age de forma diferente do zolpidem, bloqueando a orexina, um neuropeptídeo que regula o sono e a vigília. Ao desativar geneticamente o receptor de orexina 2, os pesquisadores constataram a redução no acúmulo de tau, sugerindo o envolvimento da orexina no processo neurodegenerativo.
É importante ressaltar que o estudo apresenta algumas limitações, como o fato de os efeitos protetores cerebrais terem sido observados apenas em camundongos machos. Além disso, o lemborexant é aprovado apenas para uso a curto prazo, e os efeitos do uso contínuo ainda precisam ser investigados. No entanto, a descoberta representa um avanço promissor na busca por novas terapias para o Alzheimer.
Fonte: http://www.metropoles.com