O crescente uso de medicamentos para perda de peso, como Wegovy (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida), tem levantado preocupações sobre a interação desses fármacos com outros medicamentos, em particular, os anticoncepcionais orais. Autoridades de saúde do Reino Unido emitiram alertas após o registro de gravidezes não planejadas em usuárias desses medicamentos, um fenômeno que gerou o termo “bebês Ozempic”.
A preocupação central reside no impacto que esses medicamentos podem ter na eficácia das pílulas anticoncepcionais. As injeções para emagrecer, ao mimetizarem o hormônio GLP-1, retardam o esvaziamento gástrico. Segundo Simon Cork, professor de fisiologia da Universidade Anglia Ruskin, no Reino Unido, “o efeito desses medicamentos no esvaziamento gástrico parece explicar, pelo menos em parte, por que a pílula anticoncepcional oral pode não funcionar tão bem quanto o esperado”.
Estudos recentes aprofundam essa relação. Uma pesquisa de 2024 demonstrou que a tirzepatida reduziu a concentração de etinilestradiol, um componente essencial das pílulas anticoncepcionais combinadas, na corrente sanguínea em 20%. Além disso, o tempo necessário para a absorção completa desse hormônio aumentou de duas a quatro horas, comprometendo a eficácia do contraceptivo.
Outros fatores podem contribuir para a diminuição da eficácia dos anticoncepcionais. Efeitos colaterais comuns dos medicamentos GLP-1, como vômitos e diarreia, podem impedir a absorção adequada da pílula, conforme explica o professor Cork. A perda de peso induzida pelos medicamentos também pode aumentar a fertilidade, elevando as chances de gravidez.
Diante desse cenário, especialistas recomendam cautela. Mulheres que utilizam anticoncepcionais orais e iniciam o tratamento com semaglutida ou tirzepatida devem adotar um método contraceptivo adicional não oral, como preservativos, durante as primeiras quatro semanas de uso, período em que os efeitos colaterais tendem a ser mais intensos. Em caso de gravidez durante o uso desses medicamentos, é fundamental buscar orientação médica para avaliar alternativas terapêuticas seguras.
Fonte: http://www.metropoles.com