A derrubada do projeto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo Congresso soou como um forte sinal de alerta no Palácio do Planalto. O governo Lula agora avalia o revés como uma demonstração de força da centro-direita, que mira as eleições de 2026. A derrota expõe tensões e divergências internas sobre a melhor estratégia de reação.
Enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a secretária de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, defendem uma ação da Advocacia-Geral da União (AGU) no Supremo Tribunal Federal (STF), o chefe da Casa Civil, Rui Costa, teme acirrar ainda mais os ânimos com o Legislativo. Costa acredita que judicializar a questão poderia gerar novas derrotas para o governo no Congresso. Essa divisão interna demonstra a complexidade da articulação política em meio a um cenário de crescente oposição.
A articulação para derrubar as mudanças no IOF envolveu diretamente o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). A manobra, orquestrada nos bastidores, surpreendeu o governo e escancarou a insatisfação do Congresso com a condução da política econômica e a falta de cumprimento de acordos.
Por trás do embate, há uma disputa latente entre Alcolumbre e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, com o primeiro buscando a demissão do segundo. Soma-se a isso o descontentamento de Motta com Haddad, culminando em um cenário de desconfiança e falta de diálogo entre o Executivo e o Legislativo. “O clima está muito ruim e o descontentamento é por causa do descumprimento de acordos”, afirmou o deputado Paulo Pereira da Silva (Solidariedade-SP).
A crise se agrava com a inclusão de dispositivos estranhos ao tema original (“jabutis”) em um projeto sobre eólicas offshore, o que deve onerar a conta de luz. A Frente Nacional de Consumidores de Energia estima um impacto de R$ 197 bilhões até 2050, com um aumento de 3,5% na tarifa. O governo, por sua vez, busca alternativas para mitigar o impacto através de uma Medida Provisória.
Além do IOF e da questão energética, a falta de liberação de emendas parlamentares é outro ponto de atrito entre o governo e o Congresso. Parlamentares acusam o Planalto de reter recursos e de usar o STF como ferramenta de pressão. Haddad, por sua vez, já sinalizou que um novo contingenciamento de gastos será necessário, o que inclui o bloqueio de emendas. “Não há problema nenhum em contingenciar emendas”, declarou o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL).
Diante desse cenário, partidos do Centrão já se movimentam para construir uma candidatura de oposição a Lula em 2026, com o nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sendo cogitado. A crescente tensão entre os poderes e a disputa por recursos e espaço político acendem o alerta para os desafios que o governo enfrentará nos próximos anos.
Fonte: http://www.infomoney.com.br