A Organização Mundial da Saúde (OMS) acaba de lançar a Estratégia de Medicina Tradicional para 2025-2034, um marco global que promete influenciar as políticas de saúde em todo o mundo, inclusive no Brasil. A iniciativa, aprovada por 170 países, reconhece a importância dos sistemas médicos tradicionais e ancestrais como parte integrante das soluções de saúde contemporâneas. O documento enfatiza a necessidade de embasamento científico e integração segura dessas práticas nos sistemas nacionais.
A nova estratégia da OMS sinaliza um movimento inédito em escala global, legitimando práticas como acupuntura, fitoterapia, medicina ayurvédica, medicina chinesa tradicional e medicina antroposófica. A organização indica a necessidade de ampliar pesquisas de qualidade, fortalecer a regulamentação e garantir a segurança dos pacientes. Desde a Conferência de Alma-Ata em 1978, a medicina tradicional já era reconhecida como essencial na atenção primária, especialmente em regiões onde é o principal recurso terapêutico.
Em outubro de 2025, o Brasil sediará o 3º Congresso Mundial de Medicina Tradicional, Complementar e Integrativa (3rd WCTCIM) no Rio de Janeiro. O evento marcará o pré-lançamento da Global Traditional Medicine Library, uma iniciativa do Global Traditional Medicine Centre (GTMC/OMS) que reunirá evidências científicas de acesso aberto na área. A biblioteca já indexou mais de 1,5 milhão de publicações no PubMed.
A realização do congresso no Brasil reflete o protagonismo crescente do país nesse campo. A Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares, em vigor desde 2006, já reconhece 29 práticas. Em 2024, o Sistema Único de Saúde (SUS) registrou mais de nove milhões de atendimentos nessa área, um aumento de 70% em dois anos, demonstrando a crescente demanda e a institucionalização dessas abordagens.
No entanto, desafios como a formação de profissionais, a integração das práticas aos serviços de saúde e a escassez de financiamento ainda precisam ser superados para garantir o avanço das MTCIs no Brasil. “Precisamos tanto das evidências como da escuta ativa para as comunidades e para os profissionais que já praticam, diariamente, formas de cuidar comprometidas com o bem viver”, ressalta Ricardo Ghelman, professor da UFRJ e especialista no tema.
A nova estratégia da OMS e o congresso no Brasil representam uma oportunidade para fortalecer a colaboração científica, aprimorar a política nacional e expandir o acesso a um cuidado integral e culturalmente apropriado. O objetivo é superar a dicotomia entre medicina alternativa e científica, integrando saberes em prol da saúde individual, comunitária e planetária.
Fonte: http://www.metropoles.com