O aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã, enfrenta o que pode ser o maior desafio de seus quase 40 anos no poder. Os recentes ataques de Israel e dos Estados Unidos deixaram o regime em uma posição delicada, testando a resiliência de um líder de 86 anos com saúde debilitada e sem um sucessor claro.
A extensão dos danos é considerável. O Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica, pilar da defesa dos ideais da Revolução Islâmica, sofreu perdas significativas. Além disso, as instalações nucleares iranianas foram atingidas, e cientistas cruciais para o programa nuclear foram assassinados, impactando diretamente o centro do poder.
Os grupos armados regionais, aliados de Khamenei, também foram enfraquecidos pelos ataques israelenses. A tudo isso, somam-se os prejuízos econômicos bilionários decorrentes dos ataques, em um contexto já marcado por sanções e inflação crescente.
A situação gerou preocupação com a segurança do líder supremo, que se manteve recluso durante o conflito e ausente dos funerais de comandantes e cientistas. Sua primeira mensagem pública após o cessar-fogo foi uma acusação aos Estados Unidos, declarando que “os americanos só ficarão satisfeitos com a rendição total do Irã, e nada menos”.
Em resposta, o ex-presidente Donald Trump rebateu: “Você foi espancado. Você tem que dizer a verdade”. A troca de farpas ilustra a complexidade da situação, com o Irã buscando demonstrar resiliência em meio a crescentes pressões internas e externas.
Khamenei, que outrora utilizava manobras políticas e econômicas para garantir a sobrevivência do seu regime, agora lidera um Estado rígido e em erosão. Diante da incerteza sobre sua sucessão, o futuro do programa nuclear e a força de seus aliados, ele se encontra em uma encruzilhada: persistir no modelo atual ou se abrir a mudanças que podem ameaçar sua permanência no poder.
Ao longo de décadas, Khamenei enfrentou inúmeros desafios, desde a reconstrução de uma economia devastada pela guerra com o Iraque até a gestão da dissidência interna e as pressões internacionais. Ele também impôs uma dura repressão interna durante o declínio do apoio público, especialmente após a morte de uma jovem pela “polícia da moralidade” e durante os protestos em massa de 2009.
Diante da pressão sem precedentes, Khamenei pode considerar armar o programa nuclear do Irã como sua melhor forma de proteção, revertendo uma fatwa anterior que renunciava ao desenvolvimento de armas nucleares. O Parlamento já sinalizou a intenção de suspender a cooperação com o órgão de vigilância nuclear das Nações Unidas.
Alternativamente, Khamenei poderia aproveitar a rara unidade nacional contra os ataques de Israel para implementar reformas internas. Em seu discurso, ele enfatizou a importância da força coletiva, afirmando que a nação permaneceu unida em voz e propósito. No entanto, seu conservadorismo pode limitar seu apetite por uma reformulação política e econômica fundamental.
Outra opção seria buscar uma reaproximação com a região e um novo acordo com Washington. Apesar da histórica desconfiança mútua, alguns vizinhos árabes têm expressado o desejo de cooperar com Teerã para evitar conflitos. Contudo, a desconfiança de Khamenei em relação ao Ocidente, aprofundada pela revogação de um tratado nuclear e pelos ataques de Israel, lança dúvidas sobre o futuro de qualquer negociação.
O governo Trump chegou a discutir a possibilidade de ajudar o Irã a acessar até 30 bilhões de dólares para construir um programa nuclear de produção de energia civil, aliviando sanções e liberando fundos iranianos. No entanto, mensagens públicas hostis a Khamenei, incluindo a ameaça implícita de seu assassinato, podem inviabilizar as negociações, segundo autoridades iranianas.
Em seu último discurso, Khamenei projetou uma imagem de resiliência, sinalizando que a ação militar não pode desmantelar sua república. No entanto, com a sucessão incerta e a perda de suas poderosas influências, ele enfrenta agora o desafio de garantir a sobrevivência da República Islâmica.
Fonte: http://www.cnnbrasil.com.br