O cinema de Pernambuco se consolidou como um dos mais prestigiados e premiados do Brasil, alcançando reconhecimento internacional. Essa ascensão notável é resultado de um longo processo que envolveu políticas públicas consistentes e uma articulação exemplar da classe artística local. Contrariando a ideia de um único filme ou diretor como ponto de virada, a trajetória pernambucana é marcada por uma construção coletiva.
Diego Medeiros, advogado especializado em Direito Audiovisual e autor do livro “A Potência do Cinema Pernambucano”, destaca a importância de uma convergência de fatores históricos, artísticos, culturais, sociais e políticos. Segundo ele, essa união criou as condições ideais para a explosão do cinema local. “O momento de virada foi justamente quando a união desse conjunto de fatores deu suporte necessário para a existência desses filmes”, afirma Medeiros.
A história do audiovisual em Pernambuco é rica, com mais de um século de iniciativas pioneiras e uma intensa movimentação cultural. A implementação de políticas públicas de investimento no audiovisual, consideradas como política de Estado, foi crucial. Esse investimento permitiu a formação de uma cadeia de profissionais altamente especializados no setor, impulsionando a produção e a qualidade dos filmes.
Com o passar do tempo, Pernambuco revelou cineastas com linguagens próprias e identidades autorais marcantes. Filmes como Aquarius, Bacurau, O Som ao Redor e Amarelo Manga ganharam destaque e reconhecimento da crítica mundial. No entanto, o talento individual, embora essencial, necessitou de políticas públicas e mecanismos de financiamento para prosperar. “Apenas talento não se sustenta se não existir políticas públicas e mecanismos que permitam e financiem esses projetos”, ressalta Medeiros.
A atuação jurídica também desempenhou um papel fundamental nesse processo. Diego Medeiros, acompanhando o setor como advogado há mais de vinte anos, esteve à frente de projetos como Retratos Fantasmas, Fim de Festa, O Último Azul e O Agente Secreto. Ele destaca que, em momentos críticos, como os ataques sofridos pelo setor durante o governo Bolsonaro, a atuação jurídica foi essencial para proteger o ecossistema e impedir o desmantelamento de políticas públicas.
Em 2025, o cinema pernambucano celebra mais conquistas. “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro, protagonizado por Rodrigo Santoro e Denise Weinberg, venceu o Urso de Prata no Festival de Berlim e abrirá o Festival de Gramado. Já “O Agente Secreto”, de Kleber Mendonça Filho, estrelado por Wagner Moura, levou o frevo ao Festival de Cannes e conquistou prêmios de Melhor Direção e Melhor Ator para Wagner Moura.
“Ambos trazem uma maturidade cinematográfica e têm potencial enorme para ganhar ainda mais prêmios. Representam o ponto culminante da potência do cinema pernambucano”, afirma Diego Medeiros. Para ele, investir em cinema é investir no país, gerando empregos, renda, dignidade e entretenimento, além de projetar o Brasil no cenário mundial. “O cinema é um patrimônio cultural e um ativo fantástico para projetar um país no mundo”, conclui.
Fonte: http://www.metropoles.com