Um estudo preliminar conduzido pela Prefeitura de Curitiba, com base em dados socioeconômicos e na experiência de equipes intersetoriais, traçou um perfil detalhado da população em situação de rua na região central da cidade. Os resultados, divulgados nesta segunda-feira (08), revelam características marcantes desse grupo, desafiando alguns estereótipos e abrindo caminho para novas estratégias de apoio.
O levantamento aponta que 56% se autodeclaram brancos e 90% são do sexo masculino. Surpreendentemente, 82% já tiveram carteira assinada, demonstrando uma experiência prévia no mercado formal de trabalho. Além disso, a grande maioria (92%) está em idade produtiva, entre 18 e 59 anos, o que indica um potencial para reinserção social e profissional.
Para chegar a esses dados, técnicos do Ippuc realizaram um “Levantamento Piloto de População em Situação de Rua Centro”, que considerou a análise interdisciplinar a partir da experiência cotidiana de servidores de diversas secretarias e órgãos municipais. Foram usados dados do Cadastro Único (CadÚnico) e da Central 156, além da identificação de pontos estratégicos de concentração dessa população.
Em junho de 2024, Curitiba contabilizava 4.090 pessoas em situação de rua no CadÚnico, sendo 3.245 com informações atualizadas. Esse número serviu como base para o estudo piloto, com foco na região central, onde foram destacados os dados de 1.697 pessoas cadastradas em equipamentos públicos situados na Regional Matriz.
Outro dado relevante é que 33% mantêm contato mensal ou diário com a família, e mais da metade (55%) é de Curitiba ou reside na cidade há mais de 10 anos. Entre os motivos que levaram à situação de rua, destacam-se o desemprego, problemas familiares, alcoolismo e perda de moradia, frequentemente interligados. “Esses motivos, não raro, se manifestam simultaneamente”, aponta o estudo.
Os resultados da pesquisa serão utilizados para aprimorar os serviços públicos existentes e identificar novas oportunidades de intervenção, segundo a prefeitura. Uma das estratégias é fortalecer a colaboração com organizações da sociedade civil para ampliar o atendimento e a parceria com as ações do poder público. A prefeitura enfatiza que o levantamento também ajuda a desmistificar padrões de comportamento e preconceitos.
Curiosamente, dados da Guarda Municipal indicam que, em 2024, apenas 9,8% das pessoas encaminhadas em flagrante na Regional Matriz eram pessoas em situação de rua. Apesar das mulheres representarem apenas 10% no CadÚnico, elas são alvo de 30% das solicitações de atendimento para vulneráveis do sexo feminino, demonstrando uma maior exposição à violência.
As condições da população em situação de rua fazem parte dos 12 desafios preliminares da revisão do Plano Diretor e serão debatidas em oficinas comunitárias a partir de 15 de julho nas administrações regionais. A participação da sociedade é fundamental para a construção de políticas públicas mais eficazes e humanizadas.
Fonte: http://cbncuritiba.com.br
