quarta-feira, julho 16, 2025

Analgésicos para Enxaqueca: Alívio Imediato com Consequências a Longo Prazo no Cérebro?

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A busca por alívio das crises de enxaqueca através de analgésicos pode ter um preço. Um estudo recente, publicado no renomado The Journal of Headache and Pain, revela que o uso excessivo desses medicamentos pode, paradoxalmente, intensificar as dores de cabeça crônicas.

A pesquisa aponta para alterações significativas em áreas cerebrais cruciais. Essas áreas estão ligadas à memória, ao controle motor e ao processamento visual. As descobertas levantam um alerta sobre a automedicação e a necessidade de tratamentos mais eficazes e personalizados.

Os sintomas da enxaqueca são diversos e debilitantes, incluindo dor intensa e latejante, sensibilidade à luz, sons e cheiros, visão embaçada, auras visuais e até dificuldades na fala. A complexidade da condição exige uma abordagem cuidadosa e multidisciplinar.

O estudo, conduzido por pesquisadores chineses, analisou imagens cerebrais de 63 mulheres divididas em grupos: enxaqueca crônica, enxaqueca associada ao uso excessivo de medicamentos e um grupo controle saudável. A ressonância magnética multimodal revelou diferenças notáveis entre os grupos, especialmente nas pacientes que abusavam dos analgésicos.

Observou-se uma diminuição do volume da substância cinzenta em regiões cerebrais importantes para a memória e a atenção visual. Além disso, a integridade da substância branca e a atividade em áreas ligadas ao controle motor também estavam comprometidas, conforme os dados da pesquisa.

“Esses medicamentos não tratam a doença de forma efetiva, e quanto mais remédios você toma, menos eles funcionam e mais dor você sente”, adverte o neurologista Tiago de Paula, especialista em cefaleia e membro de importantes sociedades médicas. Ele define esse ciclo vicioso como “cefaleia por uso excessivo de medicamentos”.

A análise revelou uma comunicação exagerada entre o putâmen (estrutura associada ao controle motor) e outras áreas cerebrais em pacientes que usavam analgésicos frequentemente. Essa hiperconectividade pode perpetuar ou agravar as crises de enxaqueca.

“O uso excessivo de analgésicos, principalmente os de ação rápida, pode levar à sensibilização central”, explica o médico intensivista Felipe Brambilla, especialista em enxaqueca. “O cérebro se torna mais ‘reativo’ à dor, o que contribui para a manutenção e até o agravamento da enxaqueca”, completa.

Para evitar a cronificação e os danos cerebrais, o uso de analgésicos deve ser limitado a duas ou três vezes por semana, segundo os especialistas. Quando as crises excedem quatro ou cinco dias por mês, um tratamento preventivo se torna essencial.

“O tratamento pode envolver medicamentos específicos, mudanças de estilo de vida e terapias complementares. A abordagem precisa ser individualizada”, ressalta Brambilla, enfatizando a importância de um plano terapêutico personalizado.

O estudo não apenas alerta sobre os riscos, mas também aprofunda a compreensão dos mecanismos cerebrais envolvidos na cronificação da enxaqueca. Isso pode abrir portas para diagnósticos mais precisos e terapias mais eficazes no futuro.

“O estudo reforça que disfunções no putâmen podem estar ligadas tanto à intensificação da dor quanto à dependência de analgésicos”, afirma de Paula. Ele sugere que esse funcionamento alterado pode até servir como um futuro biomarcador da doença.

Além disso, o neurologista destaca que o uso crônico de analgésicos pode comprometer a eficácia de tratamentos estabelecidos, como a toxina botulínica e os medicamentos monoclonais anti-CGRP. Essas terapias, que atuam na sensibilidade à dor e na inflamação, têm seu potencial reduzido pelo uso indiscriminado de analgésicos.

Os especialistas concordam que a enxaqueca crônica exige uma abordagem multifatorial, que considere a alimentação, o sono, o estresse, a hidratação e a atividade física do paciente. O acompanhamento médico individualizado é crucial para o sucesso do tratamento.

“Não basta tomar o remédio no momento da dor e esperar que o problema se resolva”, conclui de Paula, reforçando a necessidade de um tratamento contínuo e personalizado para o controle da enxaqueca e a prevenção de danos cerebrais a longo prazo.

Fonte: http://www.metropoles.com

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