quarta-feira, julho 16, 2025

O PT, o Mickey e o Comando Vermelho: quando a política cruza a linha do aceitável

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Nesta semana, o Partido dos Trabalhadores – PT, divulgou um vídeo para criticar a nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Até aí, nada além do jogo político que se espera em democracias. O problema, contudo, está na forma que o partido escolheu para transmitir sua mensagem: utilizou uma ilustração que faz clara referência ao conhecido “Mickey traficante” uma caricatura surgida em 2023 que viralizou nas redes associada ao Comando Vermelho, uma das facções criminosas mais violentas e influentes do país.

A imagem, que aparece no encerramento do vídeo, mostra o Mickey de camiseta vermelha, fazendo o gesto de “L” , marca eleitoral do PT , numa sátira que o partido resume sob o slogan: “Aqui é Brasil, não é Disney.”

É aí que reside o absurdo.

Não há justificativa possível para que um partido político institucional recorra a símbolos que nasceram no ambiente do tráfico, do crime organizado e da violência. Ainda que o PT tente argumentar se tratar apenas de humor ou de sátira, há um dado que não pode ser ignorado: a figura do “Mickey traficante” surgiu como representação cultural da presença do Comando Vermelho em comunidades dominadas pela facção, especialmente no Rio de Janeiro. Ali, o personagem apareceu em muros, tatuagens, bonés e camisetas,  não como simples produto cultural, mas como símbolo de poder territorial e de dominação social, capaz de intimidar moradores e afirmar a identidade criminosa do grupo.

Em outras palavras, trata-se de um ícone usado não apenas para divertir ou chocar, mas para comunicar poder paralelo, violência e glamourização do crime.

Ao adotar essa estética, o PT contribui, consciente ou não, para a banalização de algo que deveria ser tratado com o máximo de gravidade: a cultura criminosa que há décadas sangra o Brasil.

Usar essa referência não é apenas de péssimo gosto, é profundamente irresponsável.

É importante compreender que as facções criminosas, como o Comando Vermelho, não atuam somente com armas e drogas. Elas constroem narrativas, símbolos e linguagens que moldam a cultura local e até nacional. A semiótica do crime, isto é, o poder dos símbolos, cores, gestos e personagens, exerce papel central na conquista e manutenção de territórios físicos e simbólicos. Há, inclusive, estudos acadêmicos que mostram como facções investem pesado na construção de signos para se legitimar diante da comunidade, seja através de símbolos religiosos, culturais ou personagens de cultura pop reinterpretados sob a ótica do crime.

É isso que torna a escolha do PT tão alarmante: um partido político, que deveria zelar pela institucionalidade democrática, coloca-se lado a lado de uma simbologia criada para intimidar e controlar populações. Ainda que não tenha havido intenção de exaltar o Comando Vermelho, o efeito prático é abrir espaço para a normalização de um símbolo criminoso e, consequentemente, para a erosão das fronteiras entre política legítima e cultura do crime.

Estamos falando de uma facção que assassina, extorque, trafica armas e drogas, e faz refém toda uma população nas regiões sob seu domínio. Associar, mesmo que indiretamente, a imagem de um partido político a esse universo criminoso é gravíssimo. Porque, na prática, contribui para a transformação do crime em algo “pop”, esvaziando o terror que ele deveria inspirar e transformando violência em marketing visual.

Não se pode aceitar que, em nome da “comunicação criativa”, o PT cruze essa linha tão perigosa. Política se faz com ideias, com argumentos, com seriedade, não com ícones que carregam o peso de balas, sangue e sofrimento.

Por isso, registro aqui minha crítica firme e contundente: o PT errou feio. E cabe a todos nós, que nos preocupamos com o futuro deste país, denunciar esse tipo de estratégia. Precisamos proteger o debate político da contaminação pela estética e pela lógica do crime, porque, uma vez normalizada, essa contaminação cobra um preço muito alto: o da perda da confiança social, da autoridade legítima do Estado e da própria democracia.

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