Documentos vencidos, modificações não autorizadas e falhas mecânicas ou elétricas contribuem para aumentar as estatísticas de trânsito
Veículos em circulação sem condições mínimas de segurança, aliada à falta de uma fiscalização efetiva, são fatores cruciais que contribuem para os alarmantes índices de acidentes de trânsito no Paraná. De acordo com o Anuário Estatístico de 2023 do Departamento de Trânsito do Paraná (Detran-PR), aproximadamente 2,65 milhões de veículos estão irregulares no estado.
Esse número representa 30% da frota registrada, evidenciando falhas significativas no controle da segurança veicular. Os problemas não se limitam apenas à inadimplência, mas também englobam modificações não autorizadas, falta de inspeção e utilização de sistemas comprometidos, como freios, suspensões e componentes elétricos.
Everton Pedroso, presidente da Associação Paranaense de Organismos de Inspeção (APOIA), destaca a gravidade da situação. “É inaceitável que veículos com falhas mecânicas, adaptações ilegais ou documentação vencida continuem a circular livremente. Essa negligência institucional contribui diretamente para que o Brasil mantenha índices alarmantes de mortes no trânsito”, afirma.
Entre as questões mais frequentes estão automóveis com componentes elétricos e mecânicos comprometidos, documentação vencida e que permanecem em circulação sem qualquer tipo de inspeção. O Detran-PR não informou os dados atualizados de 2025 porque, de acordo com a assessoria de imprensa do órgão, a elaboração de um levantamento técnico completo sobre essas irregularidades leva cerca de 30 dias.
GNV
Um estudo realizado pela APOIA em 2024 identificou outro ponto preocupante: 32% dos veículos movidos a Gás Natural Veicular (GNV) no Paraná estão irregulares. Dos 35,8 mil veículos convertidos para esse tipo de combustível no Estado, mais de 11,5 mil apresentaram pendências legais ou técnicas.
A pesquisa, baseada na análise de 500 placas em 31 postos de combustíveis da Grande Curitiba, revelou que 6.459 veículos estão com o selo de inspeção vencido e outros 5.096 circulam sem qualquer registro no Detran-PR, configurando instalações clandestinas. “Houve avanço desde 2017, quando apenas 54% da frota estava regularizada. Em 2024, esse número chegou a 68%, mas ainda é preocupante o volume de veículos fora dos padrões de segurança”, explica Pedroso.
SELO OBRIGATÓRIO IGNORADO
No Paraná, a Lei Estadual 18.981/2017 exige que os postos de combustíveis só abasteçam veículos GNV mediante apresentação do selo de regularidade. Mas a fiscalização, alerta Pedroso, é praticamente inexistente. “Faltam ações coordenadas para fiscalizar os postos, que deveriam recusar o abastecimento de veículos irregulares. Essa negligência amplia o risco de acidentes, inclusive com vítimas”, pontua.
Ele cita um caso recente no Rio de Janeiro, onde duas pessoas morreram após a explosão de um cilindro de GNV em um posto de combustível que não correspondia ao equipamento aprovado na inspeção. “Esse é o tipo de tragédia que poderia ser evitada com um mínimo de fiscalização”, ressalta.
Outro fator de risco apontado é a idade média da frota de carros com GNV, que ultrapassa 11 anos. “Veículos antigos têm mais chances de apresentar falhas em sistemas de alta pressão, como os usados para gás”, alerta o presidente da APOIA. Ele lembra que a instalação do kit GNV deve ser feita exclusivamente por oficinas credenciadas pelo Inmetro, com inspeção técnica e emissão do Certificado de Segurança Veicular (CSV).
“O Estado precisa assumir que a negligência com veículos irregulares tem consequências diretas nas mortes no trânsito. Insistir na omissão é compactuar com o risco”, conclui Pedroso.