Em um momento de crescentes tensões políticas e preocupações com o aumento do número de estrangeiros no país, o Japão anunciou a criação de uma força-tarefa dedicada a monitorar e coordenar políticas relacionadas a residentes e turistas estrangeiros. A medida ocorre em meio a um debate acalorado sobre imigração, influenciado por um partido nacionalista em ascensão e pela proximidade de eleições nacionais.
O primeiro-ministro Shigeru Ishiba justificou a criação do escritório, formalmente chamado de Escritório para a Promoção de uma Sociedade de Convivência Harmoniosa com Nacionais Estrangeiros, citando preocupações com “crimes ou comportamentos incômodos cometidos por alguns estrangeiros” e o “uso indevido” de sistemas governamentais. No entanto, a iniciativa levanta questões sobre o futuro da política de imigração do Japão e seu impacto na economia e na sociedade.
Apesar de uma longa história de políticas de imigração rigorosas e uma tendência cultural ao isolacionismo, o Japão tem gradualmente se aberto a trabalhadores estrangeiros e buscado atrair turistas internacionais para impulsionar sua economia estagnada, impulsionada por uma população envelhecida e uma taxa de natalidade em declínio. Especialistas alertam que fechar as portas agora pode agravar a crise demográfica e prejudicar o setor do turismo, que tem crescido significativamente nos últimos anos.
A força-tarefa atuará como um “centro de comando” para coordenar políticas em áreas como imigração, aquisição de terras por estrangeiros e evasão de contribuições ao seguro social. O primeiro-ministro prometeu “agir com rigor contra aqueles que não seguirem as regras”, alimentando preocupações sobre um possível endurecimento das políticas de imigração.
O aumento do número de turistas e residentes estrangeiros tem gerado frustração entre alguns japoneses, que reclamam de superlotação, aumento dos preços e pressão sobre os serviços públicos. Um aposentado de Tóquio expressou à CNN o receio de que trabalhadores estrangeiros estejam tirando empregos dos japoneses, enquanto uma funcionária de escritório questionou a priorização de benefícios sociais para residentes não japoneses.
No entanto, especialistas alertam que muitas das crenças negativas sobre imigração derivam de informações falsas ou distorcidas durante campanhas eleitorais. O sociólogo Shunsuke Tanabe, da Universidade Waseda, ressalta que a criminalidade no Japão tem diminuído nos últimos 20 anos, mesmo com o aumento de turistas e residentes estrangeiros, e que não há praticamente nenhuma diferença entre nacionais japoneses e estrangeiros em termos de taxa de criminalidade.
A questão da imigração ganhou destaque nas últimas semanas, com o avanço de um pequeno partido de direita, o Sanseito, que faz campanha contra a imigração e defende políticas de “Japão em primeiro lugar”. Analistas políticos acreditam que a criação da força-tarefa pode ser uma tentativa do Partido Liberal Democrata (PLD), do primeiro-ministro Ishiba, de conter o avanço do Sanseito e mostrar que está sendo rigoroso com a questão.
Apesar das preocupações com o aumento do número de estrangeiros, o Japão enfrenta um grave problema demográfico, com uma taxa de natalidade em declínio e uma população envelhecida. Para atrair trabalhadores estrangeiros, o governo tem flexibilizado requisitos de visto e buscado melhorar as condições, reconhecendo a importância de manter o país de mente aberta e garantir uma transição suave rumo a uma economia voltada ao crescimento.
Fonte: http://www.cnnbrasil.com.br