Dilemas diplomáticos do governo brasileiro em relação ao prêmio
O governo Lula hesita em comentar o Nobel da Paz concedido a María Corina Machado, enquanto diplomatas avaliam as possíveis repercussões.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva hesitou em se pronunciar oficialmente nesta sexta-feira, dia 10, sobre o Prêmio Nobel da Paz concedido à líder da oposição na Venezuela María Corina Machado, que vive na clandestinidade sob ameaças do ditador Nicolás Maduro, antigo aliado político do presidente brasileiro. Embora tenha participado de cerimônia pública, o presidente não abordou o assunto. Ao longo do dia, a Presidência da República e o Itamaraty evitaram confirmar se publicariam ou não qualquer comentário.
Contexto diplomático
Em anos anteriores, o governo brasileiro não manteve uma prática padrão sobre os agraciados com o Nobel da Paz. Porém, ao menos quatro vezes manifestou-se sobre os premiados, com notas à imprensa divulgadas pelo Ministério das Relações Exteriores. O embaixador Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República, afirmou que o prêmio adotou um viés político e que o preocupante é qual será a consequência prática da láurea. Há receio de que o Nobel possa estimular uma invasão à Venezuela.
Preocupações e reações
Amorim destacou que, para o Brasil, o que interessa é o impacto que isso possa ter na pacificação e na reconciliação na Venezuela. Ele expressou ceticismo em relação ao prêmio, afirmando que a visão da premiação é muito “europeia” e distante da realidade venezuelana. No Planalto, há vozes contrárias a um pronunciamento oficial sobre o Nobel, temendo que isso possa incomodar o governo de Maduro e trazer mais ruídos num momento de crise com o ex-aliado do petista.
Tensão política
Lula e o ditador chavista não se falaram mais desde a troca de farpas pela recusa do petista em reconhecer a alegada reeleição de Maduro. O embaixador comentou que a escolha para o Nobel não agradou a nenhum dos lados e irritou a Casa Branca. A escolha de Corina Machado para o Nobel gerou um debate intenso sobre o papel da diplomacia brasileira e suas implicações nas relações com a Venezuela e os Estados Unidos.