Movimentação foi feita antes de anúncio de tarifas por Trump
Um investidor misterioso lucrou cerca de R$ 1 bilhão ao apostar contra o Bitcoin, logo antes de um anúncio de Trump.
Um investidor misterioso, que está entre os primeiros detentores de Bitcoin (BTC), lucrou o equivalente a cerca de R$ 1 bilhão ao apostar contra o preço do ativo. O que já não seria normal chamou ainda mais atenção porque a posição vendida foi montada num momento curioso: meia hora antes de um anúncio de Donald Trump causar a maior queda da história das criptomoedas.
Na sexta-feira (10), o Bitcoin chegou a cair mais de 12% após o presidente dos Estados Unidos anunciar a intenção de impor tarifas de 100% sobre importações chinesas e adotar novos controles de exportação de software. O movimento gerou uma onda global de aversão a risco e provocou perdas superiores a US$ 19 bilhões em posições alavancadas, segundo dados da Coinglass – o maior valor da história.
Números e indicadores do caso
A maior parte dessas perdas ocorreu entre investidores que estavam “comprados”, isto é, apostando na alta das criptomoedas. Já quem estava “vendido”, ou seja, apostava na queda dos preços, viu lucros expressivos. Entre esses vencedores está um investidor identificado por plataformas de análise de blockchain como um detentor de Bitcoins da “era Satoshi”, denominação usada para os primeiros participantes da rede, entre 2009 e 2011.
Segundo dados do site Lookonchain, esse trader abriu posições vendidas equivalentes a US$ 1,1 bilhão na plataforma Hyperliquid momentos antes do colapso. Com a queda abrupta do Bitcoin abaixo de US$ 110 mil, o operador teria obtido um ganho estimado entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões (R$ 828 milhões e R$ 1,1 bilhão) em menos de 24 horas.
Comportamento atípico do investidor
As movimentações chamaram atenção por seu timing preciso. O investidor começou a montar as posições entre quarta e quinta-feira, quando o Bitcoin ainda era negociado perto de US$ 117 mil. Na manhã de sexta, antes do anúncio de Trump, o volume de apostas do trader contra o mercado já ultrapassava US$ 1 bilhão. E chegou ao pico meia hora antes do gatilho que abalou os mercados.
A diretora da gestora 21Shares, Sina Meier, destacou a dimensão do episódio e o comportamento atípico do investidor. “Foram US$ 19 bilhões liquidados, e meus grupos estão pegando fogo”, escreveu. “Esta é a maior liquidação da história do mercado cripto, e um trader fez o call perfeito.”
Identidade do investidor
Meier lembrou que, em comparação, o colapso da FTX em 2022 resultou em cerca de US$ 1,6 bilhão em liquidações, e o crash da pandemia em 2020 somou US$ 1,2 bilhão. “Uma baleia da Hyperliquid abriu posições gigantescas de venda apenas 30 minutos antes de Trump anunciar as tarifas de 100% sobre a China. Lucrou cerca de US$ 192 milhões. As contas foram criadas no mesmo dia e o dinheiro já foi retirado”, afirmou.
Segundo Marian M., especialista em crimes com criptomoedas da empresa de análise Caudena, há registros de uma conta recém-criada na Hyperliquid que abriu posições vendidas em Bitcoin e Ethereum (ETH) cerca de 30 minutos antes do anúncio das tarifas e as encerrou logo após a queda. “O lucro estimado varia entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões”, disse. “Pode ter sido atividade interna ligada ao círculo de Trump, ou uma das operações mais sortudas de todos os tempos.”
A Hyperliquid, uma plataforma de derivativos cripto que permite negociações alavancadas, não comentou o caso até o momento.
O termo “era Satoshi” se refere ao período em que o criador do bitcoin, Satoshi Nakamoto, ainda era ativo na comunidade. Endereços de carteiras desse período são raros e, em geral, pertencem a indivíduos ou entidades que mineraram os primeiros blocos da rede.
De acordo com a Lookonchain, o investidor em questão possui histórico de grandes movimentações. Em agosto, quando o bitcoin superou US$ 70 mil, ele teria vendido parte de suas reservas, estimadas em 86 mil bitcoins, hoje avaliadas em mais de US$ 9 bilhões. Nos últimos meses, também foi detectada uma migração parcial de recursos para Ethereum, a segunda maior criptomoeda, indicando que o operador mantém atuação ativa e diversificada no mercado.