Fraude já causou prejuízo de R$ 2,8 bilhões em todo o país. Criminosos se passam por advogados para prometer liberação de benefícios ou indenizações e cobram pagamentos antecipados.
Uma nova onda de golpes está se espalhando pelo Brasil, vitimando milhares de pessoas que têm processos em andamento na Justiça. É o golpe do “falso advogado”: criminosos se passam por profissionais da advocacia para prometer a liberação de benefícios ou indenizações e, com isso, pedir depósitos antecipados. Nos últimos três anos, o prejuízo estimado chega a R$ 2,8 bilhões, segundo dados revelados em reportagem do Fantástico.
O que antes era um estelionato simples se tornou um crime sofisticado. As quadrilhas utilizam credenciais reais de advogados para acessar sistemas eletrônicos da Justiça, onde encontram informações pessoais das partes envolvidas, como telefones e e-mails. A partir daí, passam a se comunicar diretamente com as vítimas, simulando ser seus representantes legais.
O advogado criminalista Roberto Bona Júnior, especialista em direito criminal e com ampla experiência na advocacia paranaense, explica que o golpe se tornou mais perigoso porque combina engenharia social e tecnologia. “Esses criminosos estudam o comportamento das vítimas, conhecem os trâmites judiciais e usam informações verdadeiras para dar credibilidade à mentira. Hoje, até vozes e fotos de advogados são clonadas com inteligência artificial. Temos um caso no escritório que a voz de nossa cliente, uma advogada, foi reproduzida com IA para dar credibilidade ao golpe”, alerta Bona.
Casos como o do funcionário público Gilberto Alves, de Brasília, mostram a gravidade da situação. Ele recebeu uma mensagem no WhatsApp com a foto do seu advogado e a informação de que havia ganho uma ação na Justiça. O golpista pediu o pagamento imediato de uma taxa de R$ 2 mil para liberar o valor. Gilberto fez a transferência e só percebeu o golpe depois. No Rio Grande do Sul, uma aposentada perdeu R$ 255 mil após acreditar em mensagens de falsos advogados que diziam representar seu caso.
De acordo com Bona, há formas simples de se proteger. A primeira é confirmar diretamente com o advogado antes de realizar qualquer pagamento. “Nunca confie em mensagens de WhatsApp ou ligações inesperadas. Use apenas os canais oficiais de contato do escritório ou o número que já está salvo no seu celular”, recomenda.
Outra orientação é desconfiar de qualquer pedido urgente. “Os golpistas sempre dizem que o valor precisa ser pago naquele mesmo dia, sob pena de perder o benefício. Esse é um dos principais sinais de fraude, porque processos judiciais nunca exigem transferências imediatas”, explica o advogado.
O especialista também reforça que nenhum valor judicial é liberado por PIX, boleto ou transferência direta. “Todo pagamento é feito em juízo e liberado por meio de um alvará judicial. Se alguém pede depósito para liberar um processo, é golpe”, afirma Bona.
Além de confirmar com o advogado, é importante não clicar em links suspeitos e verificar se o número de OAB informado realmente pertence ao profissional. “A advocacia é uma profissão que exige confiança. Por isso, proteger o nome e os dados dos advogados é essencial, mas o cidadão também precisa se manter atento e desconfiar de contatos fora do padrão”, completa o especialista.
Enquanto o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) prepara novas camadas de segurança nos sistemas eletrônicos, com autenticação em dois fatores, especialistas reforçam que o melhor escudo ainda é a informação. “O golpe do falso advogado é cada vez mais sofisticado, mas pode ser evitado com atenção, prudência e comunicação direta entre cliente e profissional”, conclui Roberto Bona Júnior.