Nas últimas semanas, o Rio de Janeiro voltou a ocupar o centro das atenções com imagens impactantes de operações policiais em favelas e confrontos entre forças de segurança e facções criminosas. O vídeo que circula nas redes sociais revela um cenário perturbador: após intensos tiroteios, moradores — sob pressão do tráfico — são flagrados retirando roupas camufladas de corpos de criminosos, numa tentativa de mascarar a verdade e transformar marginais armados em supostas vítimas inocentes.

Essa manipulação visual e narrativa faz parte de uma guerra muito mais ampla do que as balas que cruzam o céu das comunidades cariocas. É uma guerra de versões, onde a criminalidade organizada compreendeu o poder da comunicação e tenta inverter papéis: o criminoso é pintado como oprimido, e o policial, como vilão. O objetivo é simples — desmoralizar as forças de segurança e sensibilizar a opinião pública para frear as ações que enfraquecem o domínio do tráfico.
Enquanto isso, a população trabalhadora, que depende do transporte público e da liberdade de ir e vir, paga o preço. Ônibus são incendiados, ruas são interditadas, escolas e postos de saúde fecham as portas. O caos é instaurado não como reação espontânea, mas como estratégia deliberada para criar comoção e desviar o foco da origem do problema: o poder paralelo que dita regras em territórios dominados pela violência.

A verdade é que o Rio vive uma guerra não declarada — uma guerra entre a lei e o crime, entre a ordem e a desordem. E, nesse campo de batalha urbano, a mídia sensacionalista, muitas vezes, atua como aliada involuntária dos criminosos, reproduzindo versões distorcidas sem o devido contexto. Ao ignorar os fatos e as circunstâncias das operações, contribui para o descrédito da polícia e para o fortalecimento da narrativa do tráfico.
Os homens e mulheres das forças de segurança que arriscam a vida todos os dias em becos e vielas sabem que não enfrentam apenas fuzis, mas também câmeras e manchetes. Cada disparo é julgado, cada ação é politizada. Poucos se perguntam quantas famílias são libertas quando um criminoso cai. Poucos refletem sobre quantos inocentes deixaram de ser vítimas porque uma operação bem-sucedida desmontou um grupo armado.
A sociedade precisa compreender que a verdadeira manipulação não vem do uniforme, mas da desinformação. Quando a criminalidade controla a narrativa, ela conquista a opinião pública — e perde-se a noção de quem realmente protege e quem oprime.
Confiar em quem te protege é mais do que um apelo — é uma necessidade de sobrevivência. O policial não escolhe a guerra, ele é chamado a enfrentá-la. E enquanto houver quem tente transformar criminosos em mártires, o Rio de Janeiro continuará refém não apenas das armas, mas das mentiras que sustentam o poder do crime.

Gerson Junior é Policial militar do paraná e Especialista em segurança pública com três livros publicados