Residência médica no Brasil mantém vagas ociosas e enfrenta desequilíbrio com crescimento das faculdades de Medicina

(Créditos: BrianAJackson / iStock)

Regulamentada desde 1981 e considerada o principal caminho de especialização no país, a residência médica forma hoje cerca de 47 mil profissionais

A residência médica no Brasil é uma modalidade de pós-graduação voltada para médicos formados que desejam se especializar, por meio de treinamento prático supervisionado. Regulamentada pela Lei nº 6.932, de 1981, e coordenada pela Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM), a formação é considerada o padrão-ouro para a especialização no país.

De acordo com o Ministério da Saúde, o programa tem caráter educacional e assistencial, permitindo que o médico desenvolva habilidades clínicas e técnicas sob supervisão direta em hospitais e unidades de saúde credenciadas. O título de especialista obtido ao final da residência é o único reconhecido oficialmente para o exercício de determinadas áreas médicas.

Em 2024, a CNRM registrou cerca de 47,7 mil médicos em residência no Brasil, o que representa aproximadamente 8% dos profissionais ativos no país. O número mostra que, embora o país tenha ampliado vagas nos últimos anos, a residência ainda não absorve todo o contingente de egressos da graduação em Medicina.

O processo seletivo é composto por etapas que seguem diretrizes da CNRM, embora cada instituição tenha autonomia para definir detalhes em edital.

Inscrição

A primeira etapa consiste na inscrição, destinada a médicos formados ou formandos que concluíram o curso até o prazo de matrícula. É necessário apresentar diploma, histórico escolar e, em alguns casos, registro no Conselho Regional de Medicina.

Prova teórica

A etapa teórica é obrigatória em todos os programas e costuma abordar as cinco grandes áreas da Medicina: Clínica Médica, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria e Medicina Preventiva. A pontuação nessa fase tem peso decisivo, sendo comum que a nota da prova objetiva represente até 100% do resultado final.

Prova prática e análise curricular

Alguns programas incluem ainda avaliação prática, entrevista ou análise de currículo. Esses critérios consideram a experiência do candidato em estágios, projetos de extensão e iniciação científica.

Classificação e matrícula

Após a divulgação dos resultados, os aprovados são convocados conforme ordem de classificação. O início das atividades segue o calendário nacional definido pela CNRM, geralmente em março, com possibilidade de uma segunda entrada em setembro – modelo aprovado em 2025 para ampliar o acesso e otimizar a ocupação das vagas.

Exigências e requisitos legais

Somente instituições credenciadas pela CNRM podem oferecer programas de residência médica. O credenciamento garante que a carga horária, a infraestrutura e o corpo docente sigam os parâmetros de qualidade definidos pelos ministérios da Saúde e da Educação.

Cada residência tem duração variável, entre dois e cinco anos, e carga horária semanal de até 60 horas. A lei garante aos residentes uma bolsa mensal, férias de 30 dias e descanso semanal, além de condições adequadas de trabalho e supervisão.

A Resolução CNRM nº 17, de 2022, também determina que os processos seletivos reservem vagas para candidatos negros, pardos e pessoas com deficiência. Essa medida busca corrigir desigualdades históricas no acesso à formação médica especializada.

Apesar dos avanços, os números mostram um descompasso entre a formação e a especialização. Em 2025, o Brasil possuía 75,4 mil vagas autorizadas para residência médica, mas apenas 54,4 mil estavam ocupadas, segundo levantamento da CNRM. Ou seja, mais de 21 mil vagas (28%) permaneciam ociosas.

O cenário se agrava quando comparado à expansão das faculdades de Medicina. Entre 2018 e 2024, o número de estudantes matriculados em cursos de Medicina cresceu 71%, passando de 167 mil para 287 mil alunos. No mesmo período, o total de médicos em residência aumentou apenas 26%, o que indica uma defasagem entre a graduação e a especialização.

 

Dicas

Para quem pretende ingressar em um programa de residência médica, especialistas recomendam planejar o estudo com antecedência e acompanhar os editais regionais e nacionais. O conteúdo das provas segue padrão nacional, concentrando-se nas cinco grandes áreas básicas da Medicina.

De acordo com o estudo Demografia Médica 2024, elaborado pelo Conselho Federal de Medicina e pela Universidade de São Paulo, seis especialidades concentram mais da metade das vagas de residência no país. 

  • Clínica Médica (13,6%).
  • Pediatria (10,5%).
  • Cirurgia Geral (9%).
  • Ginecologia e Obstetrícia (8,6%).
  • Anestesiologia (6,6%).
  • Medicina de Família e Comunidade (6,5%). 

Conhecer essa distribuição ajuda o candidato a avaliar a concorrência e escolher sua área de atuação com mais clareza.

Instituições de referência, como a USP residência médica, costumam servir de parâmetro para candidatos, tanto pelo nível de exigência quanto pela estrutura dos programas. Observar os modelos de seleção dessas universidades pode orientar o planejamento individual.

Portanto, a residência médica no Brasil é a principal via de especialização para médicos recém-formados e cumpre papel estratégico na qualificação dos serviços de saúde. O processo seletivo é competitivo e exige preparo técnico e emocional, mas também planejamento diante dos prazos e requisitos formais.

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