Reflexos da realidade econômica na trama da novela
A crise do governo Collor impactou o enredo de "Rainha da Sucata", obrigando mudanças significativas na trama e personagens.
A estreia de “Rainha da Sucata”, em abril de 1990, coincidiu com um dos períodos mais turbulentos da história do Brasil. O país acabava de receber o governo Fernando Collor de Mello, e o recém-anunciado Plano Collor, que confiscou as poupanças dos brasileiros, abalou não apenas a economia, mas também os bastidores da novela escrita por Silvio de Abreu.
Impacto da crise no enredo
A trama, que retratava o contraste entre a elite decadente e os “novos ricos”, acabou sendo diretamente afetada pelo colapso econômico que atingiu o país. O confisco das cadernetas de poupança, decretado pelo governo, obrigou o autor a refazer cerca de 30 capítulos que já estavam prontos, adaptando o enredo à realidade financeira do Brasil na época. Diálogos, locações e até o destino de personagens precisaram ser alterados às pressas.
Mudanças nos personagens
Para justificar a origem do dinheiro de Maria do Carmo, protagonista vivida por Regina Duarte, Silvio de Abreu decidiu que a empresária teria investido seus lucros em uma construção civil, uma forma de escapar do bloqueio das contas bancárias que atingia todo o país. Essa mudança foi essencial para manter a coerência da história, já que a personagem era símbolo da ascensão econômica e da força do trabalho.
Sucesso após ajustes
Nos primeiros meses, a mistura de drama e humor ácido dividiu o público, mas ajustes no tom e novas reescritas garantiram o sucesso posterior da trama. Mesmo com um início conturbado, a produção se consolidou como um retrato fiel da transição dos anos 1980 para os 1990, quando o país tentava se reinventar em meio à inflação, às mudanças políticas e ao surgimento de uma nova classe média.
“Rainha da Sucata” (1990) voltou a ser exibida pela Globo a partir de 3 de novembro, após 35 anos da estreia original. O folhetim é um dos maiores sucessos da emissora.