Análise de Marcos Mendes sobre complacência do mercado
Marcos Mendes critica a complacência do mercado financeiro em relação ao risco fiscal no Brasil, destacando a falta de urgência para correções fiscais.
Em 7 de outubro de 2023, o economista Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper, destacou que o mercado financeiro é “complacente” e não pode ser a única instância a pressionar por correções fiscais no Brasil. Em entrevista ao jornal WW, da CNN, ele expressou preocupação com a falta de disposição e senso de urgência para lidar com o tema fiscal.
Mendes afirmou: “O mercado é complacente. A lógica de funcionamento do mercado é: ‘eu vou ganhar dinheiro até onde eu puder ganhar’. É aquela coisa: ‘eu tenho que ser esperto suficiente para sair antes do barco afundar’.”
Ele ressaltou que o papel de indicar correções de ajuste não deve ser delegado apenas ao mercado. Segundo ele, “não podemos esperar do mercado um papel plenamente eficiente de correção de rumo de governo. O debate necessário deve ocorrer na sociedade, no Congresso e entre especialistas.”
Riscos de instabilidade de preços
O economista alertou sobre o risco de o Brasil reviver o trauma da instabilidade de preços. “Se o problema de coordenação nas decisões coletivas persistir, a consequência pode ser a volta da inflação. O Banco Central vai jogar a toalha e a inflação vai subir para fazer o serviço de corroer a dívida pública. Se isso acontecer, serão décadas de retrocesso”, afirmou. Mendes também observou que a dificuldade em encarar o ajuste fiscal se insere em uma atmosfera global de adiamento da situação econômica.
“O mundo está sob o signo do populismo. O mundo inteiro está atrasando esse encontro com a verdade. E essa verdade consiste em admitir que há leis da economia que funcionam inexoravelmente. Se não há equilíbrio nas contas públicas, isso vai ser, de uma forma ou de outra, corrigido. A dívida vai esmagar os juros”, criticou.
A estabilidade de preços como valor histórico
Mendes enfatizou que a estabilidade de preços é um valor na sociedade e que a ideia de deixar a inflação crescer para resolver o problema fiscal enfraquece o discurso político. Ele concluiu: “Não estou vendo disposição e nem senso de urgência na nossa sociedade, no governo, no mercado e nem nos partidos políticos em geral.”
*Publicado por Jorge Fernando Rodrigues
Fonte: www.cnnbrasil.com.br