Como a integração de dados redefine o controle de obras em 2026

integração de dados redefine o controle de obras

O setor da construção civil, historicamente um dos últimos pilares da economia a abraçar a transformação digital, enfrenta um paradoxo crônico. Apesar de movimentarem milhões, os gestores lutam contra a alta fragmentação de informações.

A indústria opera em “silos de dados”, como manter o orçamento no Excel, o cronograma no Project, a manutenção em planilhas analógicas e demais ferramentas que não possuem conexão ou sinergia direta. Isso gera baixa produtividade e uma notória dificuldade em manter a fidelidade ao orçamento, reforçando a busca de gestores e engenheiros pelo tripé central de gestão (Controle, Custos e Precisão) como um desafio antigo.

Para 2026, as tendências tecnológicas indicam que a superação desses desafios não virá de ferramentas isoladas, mas de uma revolução na forma como os dados são integrados. A inovação deixou de ser um conceito estético para se tornar a principal ferramenta de gestão financeira e de risco.

ERP como sistema nervoso central

BIM 5D, Gêmeos Digitais e IA são inovações poderosas, mas inúteis se operarem isoladamente. O grande desafio de 2026 é a interoperabilidade. A falta de integração entre sistemas é a dor principal que impede o controle. É aqui que a tecnologia na construção civil encontra seu ponto de partida: o ERP (Enterprise Resource Planning) especializado para o setor.

O ERP moderno funciona como o “cérebro” da operação, a plataforma que quebra os silos. O dado do avanço físico no Gêmeo Digital deve alimentar o cronograma; a alteração no BIM 5D deve gerar uma ordem de compra no módulo de suprimentos.

Para os sócios-diretores e o gerente de controladoria, obcecados por controle, o ERP é a única forma de ter uma visão 360º e em tempo real da saúde financeira e operacional de múltiplas obras. Mesmo antes de integrar tecnologias avançadas como o BIM 5D, o ERP especializado ataca a dor mais imediata do gestor: o controle de custos e suprimentos.

Um módulo de compras robusto, por exemplo, força o comprador a seguir o orçamento aprovado, bloqueando aquisições que não têm saldo previsto e garantindo a precisão centavo a centavo que este público exige. Ele centraliza as cotações, cria um histórico de fornecedores e garante que o custo orçado pelo engenheiro seja o mesmo custo pago pelo financeiro, eliminando a fragmentação.

A evolução do BIM 5D e o vetor da Nova Lei de Licitações

A metodologia BIM (Building Information Modeling) 3D se tornou padrão, mas a tendência para 2026 é a adoção acelerada do BIM 5D (Custos) e 4D (Tempo). Este conceito substitui a orçamentação baseada em estimativas por projeções baseadas em dados integrados. Em um modelo 5D, alterar um revestimento no projeto 3D atualiza automaticamente o custo total e o cronograma de compras.

No Brasil, a adoção está sendo impulsionada pela Nova Lei de Licitações (Lei 14.133/21), que torna o BIM preferencial (e futuramente obrigatório) em obras públicas. Para o orçamentista, isso não é uma escolha, é uma exigência de compliance.

No entanto, a implementação enfrenta barreiras, como a dificuldade de integração com bases de custo (ex: SINAPI) e a definição de um Nível de Detalhamento (LOD) adequado no modelo 3D para garantir um orçamento preciso.

A ascensão dos ‘digital twins’ e a barreira da conectividade

Enquanto o BIM é o modelo antes da construção, o Gêmeo Digital (Digital Twin) é o modelo durante e depois. Esta é a tecnologia com maior impacto para a manutenção de equipamentos pesados.

O Gêmeo Digital é uma réplica virtual de um ativo (como uma retroescavadeira), alimentada em tempo real por sensores de IoT, permitindo a manutenção preditiva (ex: “sensor de vibração 15% acima do normal”) em vez da corretiva, que gera paradas milionárias.

O maior desafio no Brasil, no entanto, é a infraestrutura. A realidade dos canteiros de obra remotos é a baixa cobertura de internet. Para esses cenários, soluções de IoT via satélite emergem como tendências para 2026, embora os custos de transmissão e a escassez de mão de obra especializada em telemetria ainda sejam barreiras significativas.

A inteligência artificial na otimização de orçamentos e cronogramas

A IA se torna uma ferramenta pragmática para o engenheiro civil. Softwares de gestão com módulos de machine learning analisam o histórico de projetos da construtora para identificar padrões complexos, auxiliando na produtividade e precisão do engenheiro de custos.

Esse tipo de ferramenta pode identificar, por exemplo, gargalos sazonais na cadeia de suprimentos que análises manuais não detectam, substituindo alocações de contingência arbitrárias por análises de risco preditivas.

Embora o custo de implementação de soluções de IA nativa e a medição de seu ROI ainda sejam desafios gerenciais significativos, a tendência aponta para módulos de IA integrados aos ERPs, que aprendem com os dados da própria construtora para otimizar cronogramas (PERT/CPM) e reduzir o tempo total da obra.

Portanto, a transformação digital na engenharia civil não é sobre adotar ferramentas por modismo. É sobre resolver o tripé fundamental que define a rentabilidade do setor: a busca obsessiva por Controle, a gestão rigorosa de Custos e a exigência de Precisão absoluta.

As tendências de 2026 mostram um caminho claro: o futuro não pertence às construtoras que usam o melhor software de orçamento ou a melhor telemetria isoladamente. O futuro pertence às empresas que conseguirem integrar todas essas fontes de dados em um único ecossistema inteligente, transformando informação em decisão e controle.

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