Aumenta a procura por congelamento de óvulos no Brasil

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Pesquisa mostra alta de mais de 90% na realização do procedimento, que pode ser visto como um seguro para mulheres que pretendem ter filhos mais tarde

     

Dados recentes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelam um aumento significativo na procura pelo congelamento de óvulos entre as brasileiras. O número de procedimentos realizados entre mulheres abaixo de 35 anos praticamente dobrou em três anos. Em 2023, foram realizados 4.340 ciclos, uma alta de 97,9% em comparação aos 2.193 ciclos realizados em 2020, primeiro ano com dados disponíveis. Cada ciclo refere-se a um procedimento de coleta, que pode envolver o congelamento de vários óvulos. Além disso, o aumento da procura não se limita às mais jovens; houve um crescimento geral de 76,3% em três anos, totalizando 13.879 ciclos no último ano. Esse crescimento é ainda mais acentuado entre as jovens, refletindo uma tendência de postergar a maternidade.

Segundo a última edição da pesquisa Estatísticas do Registro Civil do IBGE, divulgada este ano, houve uma queda no percentual de mulheres que se tornam mães antes dos 29 anos e um aumento naquelas que engravidam após os 30. Em 2020, 22% das novas mães no Brasil tinham entre 30 e 39 anos, número que subiu para 34,5% em 2022. Entre as mulheres que tiveram filhos após os 40 anos, o percentual mais que dobrou, passando de 2% para 4,2% no mesmo período. Nesse contexto, o congelamento de óvulos é visto como uma espécie de “seguro”, já que a fertilidade natural tende a diminuir após os 35 anos.

Perspectiva médica

A médica ginecologista e especialista em reprodução humana, Paulina Santander, conta que esse crescimento na procura pelo congelamento de óvulos reflete não só uma mudança no momento da busca da maternidade, mas também uma resposta às novas possibilidades oferecidas pela medicina reprodutiva, proporcionando mais controle e opções para mulheres que desejam planejar sua maternidade de forma consciente e segura. “O congelamento de óvulos oferece às mulheres a possibilidade de planejar a maternidade de acordo com seus projetos pessoais e profissionais, diminuindo a pressão do relógio biológico. A técnica de vitrificação, utilizada no processo, mantém a qualidade dos óvulos bastante similar ao momento em que foram congelados, proporcionando taxas de sucesso próximas às da fertilização in vitro com óvulos a fresco,” explica.

Santander também acrescenta que muitas mulheres recorrem ao congelamento de óvulos como uma forma de preservar a sua fertilidade antes de tratamentos médicos que possam afetá-la, como quimioterapia, ou simplesmente para adiar a maternidade até encontrar o momento ideal. “As mulheres nascem com os óvulos que vão usar na sua vida adulta. Sabemos que a quantidade e a qualidade desses óvulos diminuem com o aumento da nossa faixa etária. Assim, o congelamento dos óvulos mantém as taxas de sucesso similares às da idade que a mulher tem, quando congelou seu material. É um procedimento que tem se mostrado importante para mulheres diagnosticadas com doenças graves, como câncer. Antes de tratamentos agressivos como quimioterapia ou radioterapia, que podem comprometer a fertilidade, os óvulos podem ser coletados e preservados, mantendo a possibilidade de maternidade futura. Esse procedimento permite que as pacientes se concentrem no tratamento de sua doença, perpetuando a esperança de poderem tentar se expor a uma gestação quando forem autorizadas pelo seu oncologista”, explica a médica.

Exames necessários

O bioquímico e responsável técnico do LANAC – Laboratório de Análises Clínicas, Marcos Kozlowski, explica que os exames são fundamentais no processo de congelamento de óvulos, garantindo a segurança e a eficácia do procedimento. “Antes de iniciar o procedimento, é fundamental realizar uma série de exames para avaliar a saúde reprodutiva da mulher. Isso inclui exames hormonais para medir os níveis de FSH, LH, estradiol e AMH – Hormônio Anti-mulleriano, que fornecem informações sobre a reserva ovariana e a capacidade reprodutiva da paciente. Sorologias também são necessárias e exigidas pela ANVISA para a realização deste procedimento. Rastreio de hepatite B, hepatite C, sífilis e HIV são obrigatórios para as mulheres armazenarem seu material genético com segurança”, afirma Marcos.

Além disso, outros exames complementares como ultrassonografias e exames de sangue, são igualmente importantes. “Além dos exames hormonais, são realizadas ultrassonografias transvaginais para monitorar o desenvolvimento folicular e a resposta às medicações utilizadas para estimular a ovulação. Exames de sangue também são realizados para descartar possíveis infecções e avaliar a saúde geral da paciente. Todos esses exames são essenciais para garantir que o processo de coleta e congelamento de óvulos seja realizado da maneira mais segura e eficaz possível”, finaliza Kozlowski.

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