Balneário Camboriú vende para o mundo a imagem de “Dubai brasileira”, disputando turista com Rio de Janeiro, Fortaleza, Nordestão inteiro. Aí chega a virada do ano e o recado da Prefeitura é simples: nada de show, só fogos, todo mundo olha pro céu, tira foto e, depois de 15 minutinhos, cada um pra sua casa.
Réveillon sem graça é Balneário Camboriú sem shows.
Enquanto o Rio de Janeiro se consagra com apresentações de grandes artistas na praia de Copacabana, virando espetáculo transmitido pro país inteiro, Balneário se contenta com queima de fogos de quase R$ 5 milhões e nenhuma atração musical bancada pelo poder público.
A Prefeitura alega “responsabilidade orçamentária” e “planejamento estratégico” para justificar a decisão de não promover shows na virada. Mas responsabilidade com o quê, exatamente, se a principal vitrine da cidade vira uma noite bonita… e vazia?
Não valoriza nem quem é da casa
O mais grave nem é a falta de mega show nacional.
É que não há sequer uma política mínima para valorizar os artistas locais.
Bandas, DJs, grupos regionais poderiam compor uma programação distribuída ao longo da orla, com palcos menores, atrações variadas e custo muito abaixo de grandes nomes. Isso movimentaria a cena cultural, daria visibilidade para quem produz música o ano inteiro na região e ainda criaria identidade própria para o Réveillon da cidade.
Mas não.
A mensagem que fica é: artista local, se quiser tocar, que se vire em evento privado ou em bar que consiga segurar o rojão sozinho.
“Deu meia-noite, todo mundo pra casa dormir”
Fogos lindos, fotos incríveis, multidão emocionada… por 15 minutos. Depois disso, silêncio. Quem veio de longe esperando uma grande festa pública, com música ao vivo, animação e clima de show, descobre que a programação oficial termina junto com o último foguete no céu.
Deu 00h, todo mundo pra casa dormir.
É essa a experiência que a “Dubai brasileira” quer entregar para o turista?
Balneário já provou que sabe fazer réveillon grandioso: em anos anteriores, a cidade atraiu cerca de 1 milhão de pessoas para a Praia Central, com fogos de 15 minutos, drones e repercussão nacional. Agora, escolhe reduzir o papel da Prefeitura a mera organizadora de queima de fogos, empurrando o entretenimento para festas privadas caríssimas.
Comerciantes ficam a ver navios
Bar, restaurante, quiosque, ambulante, hotel, lojinha de lembrança: todo mundo se prepara o ano inteiro contando com a virada como uma das datas mais fortes de movimento e faturamento.
Quando não há show público, a permanência das pessoas na rua despenca.
Sem atração musical, sem palco, sem programação, a lógica é simples:
- turista desce pra praia perto da meia-noite
- assiste aos fogos
- faz as fotos
- e, em poucos minutos, a orla esvazia.
Resultado: menos consumo, menos giro de mesa, menos venda de bebida e comida, menos gente circulando no comércio. Quem trabalha honestamente para viver do turismo tem que ouvir depois que “foi melhor assim para economizar”.
Economizar com quem produz renda, emprego e arrecadação na cidade é um contrassenso completo.
Fogos não pagam conta, nem seguram turista
Investir em um espetáculo de fogos pode ser importante para manter a tradição e o encanto visual. Ninguém está dizendo que não deve existir queima de fogos. Mas transformar isso na única grande “atração” da virada é apequenar a cidade.
Show custa dinheiro? Claro.
Mas réveillon não é gasto, é investimento:
- atrai turistas de maior poder aquisitivo
- fortalece a imagem da cidade no Brasil e no exterior
- impulsiona a economia criativa
- movimenta bares, hotéis, restaurantes e serviços
- gera conteúdo e repercussão espontânea nas redes.
Quando o poder público cruza os braços e diz que não vai ter show, quem consegue se divertir são os poucos que podem pagar festas privadas. O restante fica à margem de uma virada de ano que deveria ser para todos.
Balneário merece padrão Balneário, não “meia-festa”
Balneário Camboriú já mostrou que sabe fazer réveillon de nível internacional. Tem estrutura, tem paisagem, tem rede hoteleira, tem história recente de eventos grandiosos na virada.
Falta o que, então?
Vontade política de entregar à população e aos turistas uma festa à altura da cidade.
Não dá para aceitar que a “cidade mais linda do Brasil” se conforme com um réveillon sem graça, sem show, sem música e sem valorização dos artistas da casa.
Se é para ser vitrine do turismo brasileiro, Balneário precisa parar de pensar pequeno. Fogos de 15 minutos não podem ser a desculpa perfeita para uma noite que termina cedo demais, com um recado claro:
“Obrigado por vir, agora cada um pra casa.”
E quem vive do turismo, da arte e do comércio que lute.