Acusações de sedição provocam descontentamento entre ex-militares e especialistas
Veteranos expressam indignação após Trump acusar democratas de sedição em reação a apelos por desobediência a ordens ilegais.
A recente declaração de Donald Trump, onde ele acusou legisladores democratas de “sedição, punível com a morte”, provocou indignação entre veteranos e especialistas militares. Essa afirmação surgiu após um grupo de representantes e senadores, com histórico militar, publicar um vídeo pedindo aos soldados que não seguissem ordens que considerassem ilegais. Essa situação reacendeu o debate sobre a politização das Forças Armadas e a responsabilidade dos militares em desobedecer ordens que possam infringir a lei.
Os legisladores que participaram do vídeo, incluindo Maggie Goodlander e Jason Crow, enfatizaram que a administração está colocando os militares contra cidadãos americanos. Eles afirmaram: “Você deve recusar ordens ilegais.” Embora não tenham especificado quais ordens seriam ilegais, a retórica de Trump, que enviou tropas para cidades americanas durante protestos, gerou preocupações sobre a legalidade dessas ações.
Trump respondeu à situação em uma postagem nas redes sociais, chamando os parlamentares de “traidores” e sugerindo que deveriam ser processados judicialmente. A linguagem utilizada por Trump foi considerada perigosa por muitos especialistas em direito militar, que destacaram que a acusação de sedição é aplicada de forma ampla e inapropriada pelo ex-presidente. David Frakt, um ex-oficial da Força Aérea, apontou que a verdadeira sedição pode estar mais relacionada a aqueles que tentaram derrubar o governo, como os que participaram do ataque ao Capitólio em 2021.
A reação da comunidade militar
A resposta de ex-militares foi forte. Don Christensen, um coronel aposentado da Força Aérea, declarou que as afirmações de Trump eram “horrivelmente erradas” e criticou outros políticos, como o senador Lindsey Graham, que questionaram os legisladores democratas sem condenar publicamente as palavras do ex-presidente. Christensen argumentou que a falta de condenação por parte de Graham, que tem experiência legal, é irresponsável e contradiz o que se espera de um advogado militar.
Veteranos expressaram preocupação com a segurança dos legisladores envolvidos no vídeo, temendo que a retórica de Trump coloque suas vidas em risco. A ex-oficial da Força Aérea, Rachel VanLandingham, acrescentou que a responsabilidade de desobedecer ordens ilegais é complexa, já que os militares são treinados para considerar as ordens como legais até que se prove o contrário. Ela alertou que a linha entre ordens ilegais e legais é frequentemente nebulosa.
Consequências da politização
A politização das Forças Armadas pode ter consequências sérias. Kevin Courtney, advogado com experiência militar, destacou que o discurso atual sobre ordens ilegais coloca os membros mais jovens das Forças Armadas em uma posição difícil. A divisão política pode influenciar decisões de militares, criando um ambiente em que as ordens podem ser seguidas com base em lealdade partidarista, em vez de princípios legais.
Courtney enfatizou que a integridade das Forças Armadas reside em sua neutralidade e na representação de todos os cidadãos americanos, independentemente de sua afiliação política. Portanto, a retórica de Trump, que busca politizar a atuação militar, pode degradar a percepção pública sobre os militares e sua função de proteger a democracia.
Diante dessa crise de confiança, muitos veteranos e especialistas pedem uma reafirmação pública do compromisso das Forças Armadas com a Constituição e a neutralidade política. A situação atual exige um exame cuidadoso das ordens dadas e da responsabilidade de cada militar em questionar e, quando necessário, desobedecer a ordens que possam ser ilegais. A necessidade de manter a integridade e a moralidade das Forças Armadas é mais crucial do que nunca.
Fonte: www.theguardian.com
Fonte: Brendan Smialowski/AFP/Getty Images