Em milhares de casos semelhantes no país, a Justiça opta por advertência, substituição da tornozeleira ou restabelecimento da domiciliar.
A prisão preventiva que deveria ser excepcionalíssima, só é aplicada quando há risco concreto de fuga, ameaça a testemunhas ou continuidade criminosa. Nenhum desses requisitos se encaixa com honestidade no caso de um ex-presidente monitorado 24 horas, com histórico médico que demanda cuidados e cuja vida pública impede desaparecimento.
A questão, portanto, não é se Bolsonaro errou. A questão é a desproporção.
É o peso da mão que recai sobre ele, um peso político, não jurídico.
Bolsonaro sofre, sim, abalos de saúde física e mental. As sequelas da facada, somadas ao cerco permanente, criam um ambiente de pressão que seria impensável para qualquer réu comum. Porém, nesse caso, a rigidez extrema não é aplicada para garantir justiça, e sim para criar desgaste. Não é equilíbrio processual; é corrosão emocional.
E por que interessa manter Bolsonaro no centro do furacão?
Porque enquanto os holofotes estão sobre ele, o país não olha para a hecatombe institucional chamada Banco Master.
Um dos maiores escândalos financeiros da década, envolvendo fraudes bilionárias, emissão de títulos irregulares, risco sistêmico, operações suspeitas com um banco público e possíveis ramificações políticas, simplesmente perdeu espaço na narrativa nacional. A prisão do controlador do Master deveria dominar as manchetes. A liquidação do banco deveria gerar investigações parlamentares, debates públicos, questionamentos profundos sobre a estrutura do sistema financeiro.
Mas não dominam.
Não geram.
Não movimentam.
Porque, no exato momento em que o escândalo do Master explode, a prisão de Bolsonaro explode junto.
Em qualquer democracia madura, um magistrado cuja esposa advoga para um banco investigado por fraudes desse porte jamais estaria conduzindo, simultaneamente, processos que envolvem figuras políticas capazes de desviar o foco dessa investigação. Isso violaria o princípio basilar da imparcialidade objetiva, aquele que exige não apenas neutralidade, mas aparência de neutralidade.
E aqui está o ponto central:
Ninguém diz que não se deve falar de Bolsonaro. Deve-se, sim. É um fato público relevante. Mas é impossível ignorar que sua prisão, no exato instante em que o Master desmorona, caiu como um presente inesperado para todos os envolvidos nesse colapso financeiro monumental.
O Brasil poderia, e deveria, estar debatendo:
– quem lucrou?
– quem autorizou operações?
– quem assinou pareceres?
– quem se beneficiou dos títulos falsos?
– quem abriu portas políticas para o banco?
– quem tem vínculos profissionais com a instituição?
Mas não está!
E enquanto isso, o maior escândalo financeiro recente afunda protegido por uma cortina de fumaça perfeita, usada, estrategicamente, para encobrir a podridão de um sistema inteiro.