Mostra no Museu do Ipiranga retrata a história do Brasil sob novas perspectivas
Exposição "Debret em questão" no Museu do Ipiranga apresenta releituras de artistas contemporâneos em diálogo com obras do Brasil Império.
Abertura da exposição “Debret em questão”
A exposição “Debret em questão — olhares contemporâneos” foi inaugurada no Museu do Ipiranga, em São Paulo, na terça-feira (25). Este evento apresenta um diálogo significativo entre as obras do artista francês Jean-Baptiste Debret, que retratou o Brasil durante o Império, e as releituras contemporâneas de 20 artistas. Este projeto é uma extensão do livro “Rever Debret”, publicado pela Editora 34 e assinado pelo pesquisador Jacques Leenhardt, que também é um dos curadores da mostra ao lado de Gabriela Longman.
Obras de Debret e sua crítica social
A exposição é composta por 35 pranchas litográficas de “Voyage pittoresque et historique au Brésil”, um livro impresso em Paris entre 1834 e 1839. Segundo a curadoria, Debret se distanciou da representação idealizada do Brasil, adotando uma perspectiva quase antropológica ao descrever a vida cotidiana da época com um olhar crítico. Os curadores destacam que as obras de Debret foram inicialmente rejeitadas pelo governo brasileiro devido à sua representação da violência e da escravidão predominante na sociedade carioca daquela época.
Releituras contemporâneas e suas questões
A segunda parte da exposição é dedicada às releituras contemporâneas, que recontextualizam as obras de Debret para desafiar as narrativas hegemônicas da história. Artistas como Gê Viana, Dalton Paula e Isabel Löfgren & Patricia Goùvea contribuem com trabalhos que abordam a herança da escravidão e suas repercussões na sociedade atual. Gabriela Longman, curadora da mostra, aponta que a diversidade de técnicas — incluindo fotografia, vídeo e pintura — reflete a riqueza da arte contemporânea.
Reflexão sobre a violência e a resistência
A exposição também se debruça sobre a questão da violência, uma constante nas obras de Debret e nos trabalhos dos artistas contemporâneos. Longman enfatiza a relevância de revisitarmos Debret no atual contexto social, onde as transformações e permanências na sociedade brasileira exigem reflexão. O diretor do Museu, Paulo Garcez Marins, complementa que as exposições buscam interpretar o passado à luz das questões contemporâneas, destacando as formas de violência e resistência que moldaram o Brasil.
Impacto histórico das obras de Debret
As obras de Debret têm sido reimpressas em materiais didáticos e utilizadas em diversos contextos, como camisetas e publicações, muitas vezes sem considerar o contexto original das representações. Marins observa que essa descontextualização contribui para uma visão nostálgica da escravidão, perpetuando uma sociedade que ainda lida com questões raciais. A curadoria, portanto, busca restaurar a crítica social presente nas obras de Debret, evidenciando a importância do trabalho dos escravizados na construção da sociedade brasileira.
Temas centrais e obras inéditas
Os primeiros painéis da exposição abordam a questão indígena, seguidos por representações da vida dos escravizados e a diversidade de seus ofícios. As obras inéditas de Rosana Paulino e Jaime Lauriano, que exploram temas como etnocídio e racismo estrutural, são destaques da mostra. Paulino, por exemplo, apresenta “Paraíso Tropical”, que revisita a ideia de um Brasil idílico para expor as feridas deixadas pela exploração. Já Lauriano, com sua instalação “Brasil através do espelho”, provoca reflexões sobre a atualidade das violências retratadas nas imagens.
Informações sobre a visitação
A exposição “Debret em questão” ficará em cartaz até 17 de maio do ano que vem, de terça a domingo, das 10h às 17h. Uma sala especial da exposição é dedicada ao desfile sobre Debret, concebido pela escola Acadêmicos do Salgueiro para o carnaval de 1959, registrado pelo fotógrafo Marcel Gautherot. Com essa abordagem, a mostra promete provocar reflexões sobre a história e a arte brasileira sob novas perspectivas.
Fonte: www.cnnbrasil.com.br
Fonte: Baptiste Debret com releituras feitas por outros artistas