Medicina e inovação transformam o tratamento das malformações de orelha

Avanços em reconstrução auricular unem tecnologia, precisão e abordagem humanizada, elevando resultados funcionais e estéticos.

 

Um estudo recente publicado no Plastic & Reconstructive Surgery Global Open acompanhou 91 crianças com orelhas constritas e demonstrou que a moldagem auricular precoce obteve taxa de sucesso superior a 90 %, com baixos índices de complicações. A pesquisa reforça que a identificação e o tratamento imediato das malformações da orelha não impactam apenas a estética, mas também a função auditiva e o bem-estar emocional do paciente.

A Dra. Clarice Abreu é médica cirurgiã plástica e craniomaxilofacial com mais de vinte anos de experiência, referência nacional em reconstruções craniofaciais e no tratamento de malformações complexas. Sua trajetória combina excelência técnica e olhar humano, permitindo discutir o tema com profundidade clínica e empatia.

As malformações de orelha, que incluem microtia, anotia e deformidades estruturais, afetam milhares de pessoas no mundo e podem comprometer tanto a aparência quanto a audição. A especialista explica que “quando a orelha não se desenvolve de forma adequada, a diferença é percebida não apenas pelo som, mas também pela forma como o indivíduo se enxerga e se relaciona com o outro”. Para ela, o desafio do cirurgião está em equilibrar função e estética, sem negligenciar o impacto emocional do tratamento.

O diagnóstico precoce é determinante. Em recém-nascidos, técnicas de moldagem auricular aplicadas nas primeiras semanas de vida, conseguem corrigir deformidades leves sem necessidade de cirurgia. Já nos casos de microtia ou ausência total da orelha, a reconstrução cirúrgica é o principal recurso. Esse procedimento pode ser feito com cartilagem costal, próteses de material sintético ou implantes de titânio que fixam orelhas artificiais de silicone. “Cada caso exige uma estratégia individualizada. Nas crianças, por exemplo, devolvemos o contorno natural com tecido do próprio paciente, com resultado muito satisfatório”, explica a cirurgiã.

Além do aspecto técnico, o processo envolve escuta e acolhimento. A reconstrução da orelha tem impacto direto na autoestima e na interação social. Pessoas que convivem com a malformação frequentemente relatam insegurança, evitam fotografias e sofrem constrangimentos. Dra. Clarice reforça que “o resultado mais importante não é o espelho, é a forma como o paciente se sente depois. Uma cirurgia bem-sucedida é aquela que devolve liberdade, confiança e pertencimento”.

Após o tratamento, o acompanhamento com otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos e psicólogos é essencial. Essa integração garante que a recuperação envolva não só a audição e a fala, mas também a reinserção social. Segundo a médica, a tecnologia tem desempenhado papel central nesse processo: impressões 3D e planejamento digital aumentam a precisão e reduzem complicações. Ela ressalta, porém, que “a inovação só tem sentido quando caminha junto com o cuidado humano. A tecnologia é uma ferramenta, mas o vínculo é o que cura”.

Mesmo com os avanços, o acesso ao tratamento ainda é desigual. Muitas pessoas desconhecem que há soluções eficazes e seguras disponíveis no país. Para mudar esse cenário, a especialista defende mais divulgação, capacitação de equipes médicas e ampliação dos centros de referência. “O conhecimento precisa chegar à base, aos pediatras e aos profissionais da atenção primária. Só assim as pessoas serão diagnosticadas cedo e terão a chance de reconstruir não apenas a orelha, mas também a autoestima”, conclui a cirurgiã plástica. .

 

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