Réveillon 2025: samba enfrenta desigualdade em cachês e espaço

Júlio Gumarães/RioTur

Discussão sobre a desvalorização do samba no cenário do Réveillon brasileiro em 2025

Análise revela que o samba ainda enfrenta desigualdade em cachês e espaço nas festas de Réveillon pelo Brasil.

Samba no Réveillon continua a enfrentar desigualdade

O samba no Réveillon, especialmente em 2025, ainda luta contra a desigualdade em cachês e espaço nas festas de Ano Novo pelo Brasil. O Dia Nacional do Samba, celebrado em 2 de dezembro, destaca essa questão, especialmente ao recordar os 30 anos do célebre Réveillon de 1995, onde Paulinho da Viola, único sambista no evento em Copacabana (RJ), recebeu um cachê de R$ 30 mil, muito inferior aos R$ 100 mil pagos a artistas como Gilberto Gil e Caetano Veloso.

Este episódio, mencionado no livro “Projeto Querino: um Olhar Afrocentrado Sobre a História do Brasil” de Tiago Rogero, expôs sentimentos de preconceito e subvalorização do samba na sociedade brasileira. A explicação para essa marginalização é complexa e profunda, abrangendo aspectos históricos, raciais e estruturais que continuam a afetar a percepção e valorização do gênero musical.

Análise das festividades de Réveillon em diferentes cidades

Recentemente, o Metrópoles investigou os dados oficiais das maiores festas de Réveillon nas cidades de Salvador, Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro entre 2022 e 2024. A pesquisa revelou que o samba ainda está ausente na programação de maioria dos eventos. Em Salvador, apenas três das 83 atrações nos últimos três Réveillons eram do samba. Em Brasília, o gênero não figura desde 2022, e em São Paulo, onde apenas três das 21 atrações representavam o samba.

O professor e crítico cultural Acauam Oliveira afirma que essa marginalização é resultado de um projeto histórico das elites brancas para eliminar os negros das esferas culturais e de produção artística. Essa percepção é corroborada pelos dados das festividades, que mostram a prevalência de outros gêneros musicais em detrimento do samba.

O samba no Rio de Janeiro: uma exceção

Contrapõe-se a essa realidade o Rio de Janeiro, onde o samba mantém uma presença significativa. Entre 2022 e 2024, 18 das 21 atrações do Réveillon carioca eram de samba. Oliveira explica que isso se deve à presença cultural intrínseca do samba na cidade, que o torna parte do cotidiano da população. Essa relação intensa contrasta com a realidade de outras cidades, onde o samba não é tão enraizado.

Além da escassa representação do samba, a disparidade financeira nos cachês também é uma questão preocupante. Em São Paulo, por exemplo, as escolas de samba recebem cachês muito inferiores aos artistas de outros gêneros. Em 2022, a Mancha Verde, uma das escolas, recebeu apenas R$ 30 mil, comparado a R$ 700 mil pagos a Leonardo. Este cenário se repetiu nos anos seguintes, evidenciando a subvalorização dos sambistas em comparação com artistas de outros estilos.

Reflexões sobre a valorização do samba

Luiz Antonio Simas, historiador, ressalta que, apesar do samba ter conquistado um espaço importante ao longo do tempo, os artistas ainda enfrentam uma subestimação no mercado. O samba é majoritariamente fruto de trabalhadores que têm suas condições precarizadas, o que influencia diretamente a negociação dos cachês. Portanto, mesmo quando os valores aumentam, geram polêmica e desconforto entre os organizadores e a elite cultural.

Acauam Oliveira argumenta que há um projeto nacional que desvaloriza a cultura afro-brasileira. Ele destaca que o avanço de interesses como o agronegócio tem deslocado espaços que antes eram dedicados ao samba. Essa dinâmica reafirma a necessidade de um debate mais amplo sobre a valorização do samba e de seus artistas.

O futuro do samba e sua importância cultural

Apesar das barreiras institucionais e da desigualdade enfrentadas, o samba permanece um gênero vivo e vibrante. Novas rodas de samba estão surgindo, assim como projetos comunitários que reafirmam a conexão do samba com suas raízes culturais. O Dia do Samba, estabelecido pela Lei nº 554 em 1964, é um lembrete da força e relevância desse estilo musical na formação da identidade brasileira.

Simas conclui que o samba não precisa dos grandes palcos para existir. Ele é mais do que um evento; é uma maneira de construir identidade e solidariedade social. Os sambistas, portanto, são fundamentais para o processo civilizatório brasileiro, perpetuando a riqueza cultural do país.

Fonte: www.metropoles.com

Fonte: Júlio Gumarães/RioTur

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