Queda do Bitcoin e retração global refletem fuga de risco, pressão macroeconômica e incerteza regulatória internacional
O mercado de criptomoedas passa por uma das mais intensas correções desde 2022, com o Bitcoin recuando a patamares não vistos há meses e arrastando todo o setor digital. O movimento, influenciado por fatores macroeconômicos e saídas de capital institucional, deve moldar um primeiro trimestre de 2026 marcado por volatilidade e prudência. O último trimestre de 2025 tem sido marcado por forte queda no mercado global de criptoativos.
Dados do mercado mostram que o bitcoin, que havia registrado máximas históricas acima de US$ 120 mil em outubro de 2025, recuou para a faixa de US$ 87 mil em novembro, apagando ganhos acumulados ao longo do ano. A retração atingiu também outros ativos relevantes, como Ethereum e Solana, contribuindo para uma desvalorização superior a US$ 1 trilhão na capitalização total do setor, segundo estimativas amplamente divulgadas por plataformas internacionais de análise.
Entre os principais fatores que influenciam o movimento atual estão a piora do apetite global por risco, a redução da liquidez internacional, ajustes em posições alavancadas e o aumento de saídas de capital de fundos e ETFs cripto. Ao mesmo tempo, incertezas relacionadas às políticas monetárias dos Estados Unidos e à desaceleração econômica global pressionam ainda mais a confiança dos investidores. Esse cenário reforça a visão de que, apesar de seu discurso histórico de descorrelação, o mercado cripto passou a acompanhar de forma mais próxima os ciclos de volatilidade dos ativos tradicionais.
O analista Fernando de Carvalho, head de digital assets da OnilX, exchange brasileira especializada em soluções de pagamento, assessoria e educação financeira, avalia que o momento atual exige reposicionamento estratégico: “Estamos vivendo um processo natural de ajuste após um ciclo de valorização acelerado. A combinação de juros elevados, menor liquidez e realização de lucros cria um ambiente de correção ampla, especialmente em mercados altamente sensíveis ao fluxo institucional, como o de criptoativos”, afirma. Segundo o especialista, esse movimento também reduz a previsibilidade de ciclos pós-halving, tradicionalmente associados a momentos de forte recuperação.
De acordo com Fernando, o primeiro trimestre de 2026 tende a ser marcado por consolidação, lateralização dos preços e possível manutenção de baixa liquidez. “Se esse comportamento persistir, o início de 2026 pode não apresentar força suficiente para retomadas abruptas. Antes de observar novas altas, será necessário acompanhar sinais concretos de retorno do capital institucional e estabilização macroeconômica. Estamos passando por um momento de adaptação, agora precisamos entender as necessidades do mercado, para daí então pensar nos próximos passos”, completa.
Apesar do cenário desafiador, o especialista destaca pontos que podem influenciar uma eventual recuperação ao longo de 2026, como o avanço de regulamentações no Brasil, o progresso na tokenização de ativos reais e o amadurecimento das soluções de interoperabilidade entre blockchains. Esses elementos podem reforçar a segurança institucional e favorecer uma retomada gradual quando houver retorno da liquidez global. “Mesmo com a correção atual, existem vetores estruturais que podem sustentar uma recuperação ao longo de 2026. A regulamentação brasileira vem avançando, o que cria um ambiente mais seguro para investidores e instituições. Paralelamente, a tokenização de ativos reais e os avanços em interoperabilidade entre blockchains fortalecem a infraestrutura do mercado. Se a liquidez global retornar, esses fatores podem permitir uma retomada gradual e mais consistente”, avalia.
Para investidores que desejam se posicionar com cautela, Fernando recomenda atenção a indicadores específicos: fluxo de entrada e saída de ETFs, variações nas taxas de juros internacionais, níveis de liquidações forçadas em corretoras e movimentos de grandes carteiras (“whales”). “Em momentos de volatilidade elevada, o foco deve estar em gestão de risco, diversificação e análise de fundamentos, evitando decisões impulsivas baseadas apenas em especulação. Como eu falei, entender o mercado faz toda a diferença na hora de investir”, finaliza.


