A Batalha de 2026: A Corrida Presidencial Começa no Campo de Batalha Digital – Por Thiago Branco

Com as eleições de 2026 se aproximando, o cenário político brasileiro se desenha não apenas nos bastidores de Brasília, mas em um campo de batalha cada vez mais decisivo: o ambiente digital. A disputa pela atenção e pelo voto do eleitor transcendeu os palanques tradicionais e agora é travada em tempo real nas redes sociais, em campanhas de tráfego pago e no uso estratégico de ferramentas de automação. Este artigo analisa os movimentos dos principais pré-candidatos, com foco na direita, e como suas performances digitais podem definir o futuro da nação.

A Direita se Reorganiza no Ambiente Digital

Com a inelegibilidade de Jair Bolsonaro e sua posterior prisão em novembro de 2025, a direita brasileira se viu diante do desafio de encontrar um sucessor capaz de unificar sua base e enfrentar a máquina governista . A resposta, ao que tudo indica, está sendo construída no terreno digital, onde a família Bolsonaro e seus aliados ainda demonstram uma força formidável. Mesmo com suas redes sociais inativas por ordem judicial, o ex-presidente mantém uma base de 27 milhões de seguidores, um capital político que supera a soma de seus familiares diretos .
Diferentemente da esquerda, que se concentra em torno de um único nome viável — Lula — a direita apresenta uma fragmentação sem precedentes, com múltiplos candidatos disputando o espaço. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em dezembro de 2025, enquanto 56% dos eleitores apontam Lula como principal líder da esquerda, apenas 35% reconhecem Bolsonaro como líder da direita . Essa fragmentação, paradoxalmente, pode ser uma força ou uma fraqueza, dependendo de como a direita conseguir se unificar no segundo turno.

A Ascensão Digital de Michelle e o Fator Flávio

Nesse contexto, é a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, quem emerge como uma das principais forças digitais da oposição. Liderando o ranking de presidenciáveis da Datrix com 37,34 pontos em dezembro de 2025, ela consolidou sua posição ao mobilizar a base conservadora e o eleitorado evangélico com pautas de fé, resiliência e defesa da família . Sua capacidade de engajamento, que a levou a alcançar 7,8 milhões de seguidores, a posiciona como uma peça-chave no tabuleiro de 2026, seja como candidata ou como um poderoso cabo eleitoral .
Segundo a pesquisa Ipsos-Ipec divulgada em 9 de dezembro de 2025, Michelle é a candidata da direita que mais se aproxima de Lula, com 23% de intenção de voto contra 38% do presidente, uma diferença de 15 pontos percentuais . Sua rejeição é de apenas 30%, a mais baixa entre os candidatos de direita testados.
O anúncio da pré-candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL), embora recebido com ceticismo por parte do mercado, provocou um terremoto digital. Em apenas quatro dias, o senador ganhou 311 mil novos seguidores e gerou 1,86 milhão de menções nas redes, com um pico de 19 milhões de interações . Esse fenômeno demonstra que o capital político do nome Bolsonaro continua extremamente potente no ambiente online. Flávio aposta no discurso da segurança pública e na continuidade do legado de seu pai, mas enfrenta o desafio de uma alta rejeição (35%) e a desconfiança sobre sua viabilidade eleitoral. Na pesquisa Ipsos-Ipec, Flávio aparece com 19% de intenção de voto, ficando atrás de Michelle e empatado tecnicamente com Tarcísio .

Tarcísio de Freitas: A Estratégia Silenciosa e Tecnológica

Correndo por fora, mas com uma estratégia digital sofisticada, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), se consolida como uma alternativa viável para a direita. Com 11,7 milhões de seguidores somados em todas as redes sociais (Instagram, Facebook, TikTok, X e YouTube), Tarcísio supera em alcance digital muitos nomes da oposição, ficando atrás apenas de Jair Bolsonaro e Michelle entre os políticos de direita . Enquanto mantém um silêncio calculado sobre a candidatura de Flávio, Tarcísio investe em uma comunicação segmentada e tecnologicamente avançada. Sua equipe utiliza ferramentas como a ClipfyAI para automatizar a produção de cortes de vídeos, inundando as redes com conteúdo direcionado, especialmente para o eleitorado evangélico .
Apesar de sua presença digital robusta, Tarcísio enfrenta um desafio importante: sua aprovação como governador de São Paulo é de 60%, a menor entre os presidenciáveis de direita pesquisados . Na pesquisa Ipsos-Ipec, Tarcísio aparece com 17% de intenção de voto no primeiro cenário testado , demonstrando que sua mobilização digital ainda não se converteu completamente em intenção de voto.

Ratinho Júnior: A Alternativa Palatável da Centro-Direita

Enquanto Flávio Bolsonaro tenta se consolidar como herdeiro do bolsonarismo, emerge uma alternativa que ganha força entre os partidos de centro-direita: Ratinho Júnior (PSD), governador do Paraná. Com 85% de aprovação entre os eleitores paranaenses, Ratinho lidera o ranking dos governadores mais bem avaliados do país, segundo pesquisa do Real Time Big Data . Essa aprovação extraordinária o posiciona como um nome mais “palatável” ao mercado e aos eleitores moderados, em contraste com a polarização que envolve Flávio Bolsonaro.
O lançamento da pré-candidatura de Flávio, paradoxalmente, fortaleceu a posição de Ratinho. Segundo analistas políticos, a escolha de Flávio isolou o PL e abriu espaço para que a centro-direita se concentrasse em torno de Ratinho como alternativa . Lideranças do Centrão, como o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, já sinalizaram que Ratinho e Tarcísio são os dois nomes capazes de unificar a centro-direita .
Na pesquisa Ipsos-Ipec, Ratinho aparece com 9% de intenção de voto em todos os cenários testados, e sua rejeição é de apenas 13%, a mais baixa entre todos os candidatos testados . Embora Ratinho mantenha um perfil mais discreto nas redes sociais em comparação com Flávio e Michelle, sua estratégia é diferente: ele investe em consolidação de marcas de governo e em um discurso pela pacificação do país.

Romeu Zema e Ronaldo Caiado: Os Candidatos Liberais e Conservadores

Completando o quadro da direita fragmentada, estão Romeu Zema (Novo), governador de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado (União Brasil), governador de Goiás. Ambos anunciaram suas pré-candidaturas e mantêm seus nomes na disputa, mesmo após o lançamento de Flávio Bolsonaro .
Zema, que representa a ala mais liberal da direita, defende que múltiplas candidaturas no primeiro turno fortalecem a oposição no segundo turno . Na pesquisa Ipsos-Ipec, Zema aparece com 3% a 5% de intenção de voto, dependendo do cenário, com rejeição de apenas 13% .
Caiado, por sua vez, representa a ala mais conservadora e tem o apoio do União Brasil para sua candidatura. O partido já começou a exibir inserções nacionais de TV com Caiado, reforçando sua imagem presidencial . Na pesquisa Ipsos-Ipec, Caiado aparece com 5% a 7% de intenção de voto, com rejeição de apenas 10%, a segunda mais baixa entre os candidatos testados .
Player da Direita
Seguidores (Dez/2025)
Plataforma
Aprovação Governamental
Intenção de Voto (Ipsos-Ipec)
Rejeição
Michelle Bolsonaro
7,8 milhões
Instagram
N/A
23%
30%
Tarcísio de Freitas
11,7 milhões
Todas as redes
60%
17%
11%
Flávio Bolsonaro
6,5 milhões
Instagram
N/A
19%
35%
Ratinho Júnior
1 milhão
Instagram
85%
9%
13%
Romeu Zema
Não especificado
Redes sociais
N/A
3-5%
13%
Ronaldo Caiado
Não especificado
Redes sociais
N/A
5-7%
10%
Jair Bolsonaro
27 milhões
Inativo (por ordem judicial)
N/A
N/A
N/A
Nota: Os dados de seguidores de Tarcísio referem-se ao total em todas as plataformas (Instagram, Facebook, TikTok, X, YouTube). Os dados de Michelle, Flávio e Ratinho referem-se especificamente ao Instagram.

A Máquina Governamental e a Vantagem de Lula

Do outro lado do espectro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar de liderar as pesquisas de intenção de voto, enfrenta uma alta taxa de rejeição (44%) e um desgaste em sua imagem digital . Segundo o levantamento da Datrix, Lula perdeu quase 3 pontos em seu índice de presença digital, impactado por polêmicas recentes . No entanto, a máquina pública joga a seu favor. Em 2025, o governo Lula quintuplicou os gastos com publicidade em redes sociais, em uma clara estratégia para ampliar sua base e construir a narrativa para 2026 . Com 14 milhões de seguidores no Instagram e uma estrutura de comunicação robusta, que inclui o fotógrafo Ricardo Stuckert no controle de suas redes mais populares, Lula ainda é o nome a ser batido .
A pesquisa Ipsos-Ipec confirma a força de Lula: ele aparece com 38% de intenção de voto em todos os cenários testados, independentemente do adversário . Essa consistência sugere que Lula tem um “piso” eleitoral sólido, enquanto a direita ainda está em processo de reorganização e unificação.

A Fragmentação da Direita vs. A Coesão da Esquerda

Um aspecto crucial que emerge das pesquisas é a fragmentação da direita em contraste com a coesão da esquerda. Enquanto a direita apresenta seis candidatos viáveis (Michelle, Flávio, Tarcísio, Ratinho, Zema e Caiado), a esquerda tem apenas Lula como nome consolidado. Segundo pesquisa Datafolha, 56% dos eleitores apontam Lula como principal líder da esquerda, enquanto apenas 35% reconhecem Bolsonaro como líder da direita .
Essa fragmentação pode ser interpretada de duas formas. Primeiro, como uma fraqueza: a direita pode se dividir no primeiro turno e não conseguir unificar forças no segundo. Segundo, como uma força: múltiplos candidatos de direita podem somar votos e criar uma base mais ampla para enfrentar Lula no segundo turno. Segundo Zema, “múltiplas candidaturas no primeiro turno ajudam a somar forças no segundo” .

O Impacto do Tráfego Pago e da Legislação

A batalha de 2026 será cara, especialmente no ambiente digital. A partir de janeiro, a Reforma Tributária imporá uma alíquota de 12,15% sobre os serviços de publicidade digital, o que significa que cada R$ 1.000 investidos em tráfego pago se converterão em apenas R$ 878,50 de anúncios efetivos . Esse encarecimento exigirá das campanhas uma eficiência ainda maior na segmentação e na produção de conteúdo.
As estratégias de sucesso combinarão o online e o offline, utilizando o contato físico direto para gerar um impacto inicial que será reforçado e metrificado pelo tráfego pago nas redes sociais . A legislação eleitoral, cada vez mais atenta ao ambiente digital, impõe regras rígidas sobre transparência, uso de dados e combate à desinformação, o que demandará das equipes jurídicas e de marketing um trabalho integrado e minucioso.

Tendências de Conteúdo e Automação

A produção de conteúdo para 2026 segue tendências bem definidas. Vídeos curtos e cortes automatizados dominam a estratégia, especialmente em plataformas como TikTok, Instagram Reels e YouTube Shorts. Tarcísio de Freitas é um exemplo dessa abordagem, utilizando ferramentas de automação para gerar múltiplas variações de conteúdo direcionadas a públicos específicos .
A segmentação por público-alvo também é crucial. O eleitorado evangélico, em particular, é alvo de estratégias sofisticadas tanto de Tarcísio quanto de Michelle Bolsonaro, com conteúdo focado em valores morais, fé e resiliência. Já Flávio Bolsonaro aposta em temas de segurança pública e continuidade política, enquanto Lula investe em políticas públicas e desenvolvimento.

Conclusão: O Jogo Apenas Começou

O cenário para 2026 ainda está em aberto, mas os primeiros movimentos indicam que a performance digital será um fator determinante. A direita, embora fragmentada, demonstra uma resiliência e uma capacidade de mobilização online impressionantes, com Michelle Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e Ratinho Júnior se destacando como forças emergentes. A candidatura de Flávio Bolsonaro, por sua vez, servirá como um termômetro para medir a força do bolsonarismo sem Bolsonaro na urna.
Enquanto isso, Lula e o PT utilizam a máquina governamental para tentar conter o avanço da oposição e solidificar sua narrativa. A eficiência no uso do tráfego pago, a capacidade de produzir conteúdo que gere engajamento real e a habilidade de navegar em um ambiente regulatório complexo serão as chaves para a vitória. A corrida presidencial de 2026 já começou, e seu campo de batalha é a tela do seu celular.

Referências

Sobre o autor: Thiago Branco é CEO e proprietário do portal Folha de Curitiba, além de Head de Estratégias de Tráfego e Comercial. Especialista em marketing político, gestão de crise, posicionamento e campanhas de tráfego pago para mandatos, pré-candidatos e partidos, atua na análise profunda de dados para criar estratégias que geram engajamento, autoridade e votos. Para consultorias, projetos de comunicação política ou gestão de tráfego, entre em contato pelo @thiagobranco

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