Mais de 48 mil demissões foram atribuídas diretamente à IA em 2025, sendo 31 mil apenas em outubro

Com o avanço acelerado da inteligência artificial (IA), o mercado de trabalho vive uma reestruturação profunda, e o temor de perder o emprego já se apoia em números concretos. Empresas como Lufthansa, ING e Krafton anunciaram reduções de equipes associadas a ganhos de eficiência proporcionados pela tecnologia. Nos Estados Unidos, mais de 48 mil demissões foram atribuídas diretamente à IA em 2025, sendo 31 mil apenas em outubro, segundo a consultoria Challenger, Grey and Christmas. O rastreador independente Layoffs.fyi também contabiliza mais de 112 mil demissões em 231 companhias de tecnologia no ano, enquanto organizações como Amazon e Microsoft passaram a exigir que equipes justifiquem por que não podem usar IA antes de solicitar novas contratações. Esses dados reforçam que a automação está acelerando ajustes estruturais com impacto direto na força de trabalho.
Segundo o consultor de carreira e diretor acadêmico da ESIC Internacional, Alexandre Weiler, entender esse cenário é o primeiro passo para agir estrategicamente: “As demissões atribuídas à IA não significam que todos os empregos serão automatizados, mas deixam claro que quem não desenvolve novas competências se torna mais substituível. O profissional que se apoia apenas em tarefas técnicas ou operacionais corre mais risco do que aquele que agrega visão, análise e tomada de decisão”.
Weiler explica que o movimento das empresas mostra que a IA está elevando o padrão mínimo para qualquer vaga que sobreviver a esse filtro exige reinvenção constante e que ao contrário da percepção comum, a IA também cria oportunidades, como apontam os dados do Fórum Econômico Mundial, que estimam a criação de milhões de novos empregos até 2030, especialmente em funções que combinam tecnologia, comunicação e capacidade analítica. “As empresas buscam pessoas que saibam trabalhar com a IA, não contra ela”, afirma Weiler. “Pensamento crítico, comunicação, resiliência, literacia digital e capacidade de resolver problemas complexos se tornam habilidades premium. A tecnologia executa, mas o humano interpreta. Quem domina conhecimentos complementares à automação passa a ser percebido como indispensável”, explica.
Transições de carreira mais ágeis
Outro ponto central é que a IA abre portas para transições de carreira mais rápidas sendo um possível ponte que facilita a migração para novas ocupações ao acelerar aprendizado e reduzir barreiras técnicas. “A IA permite que profissionais aprendam mais rápido, testem hipóteses e executem tarefas que antes exigiam conhecimento muito especializado”, explica Weiler. “Isso democratiza trilhas de carreira e dá vantagem a quem usa a tecnologia como apoio estratégico. Assim, áreas como análise de dados, marketing digital, educação, saúde, experiência do cliente e operações tendem a crescer impulsionadas pela automação”, afirma o consultor.
Trabalhar em conjunto com a IA
O segredo para não ser cortado não é competir com a IA, mas trabalhar junto a ela. Levantamentos recentes mostram que empresas como IBM e Accenture já reduziram a dependência de tarefas manuais graças a agentes automatizados, realocando equipes para funções mais criativas, de supervisão ou tomada de decisão. “Sempre que a tecnologia assume rotinas repetitivas, abre espaço para o humano atuar em níveis mais altos da cadeia de valor”, reforça Weiler. “Mas isso só acontece para quem demonstra preparo para subir de posição. Quem não acompanha essa evolução acaba ficando exatamente nas funções que a IA substitui primeiro”, completa Weiler.
Por fim, o consultor destaca que a pergunta central não é mais “a IA vai substituir empregos?”, mas “quais profissionais continuarão essenciais?”. A resposta passa pela combinação entre domínio técnico, pensamento estratégico e capacidade de lidar com complexidade humana, algo que nenhuma automação entrega plenamente. “A inteligência artificial está redesenhando o mapa do trabalho, mas não elimina a importância da inteligência humana”, conclui Weiler. “O profissional indispensável do futuro é aquele que alia tecnologia, intencionalidade e visão. Ele não teme a IA: usa a IA para se tornar maior que ela”, finaliza Weiler.



