Para cerca de um terço do eleitorado brasileiro, o resultado das próximas eleições para o governo federal deve ser decidido pelo voto no “menos pior”
A disputa presidencial de 2026 deve ser marcada menos pela força das identidades ideológicas e mais pelo peso de um eleitor que vota por rejeição, não por afinidade. Estimativas da Alfa Inteligência, uma das principais empresas de pesquisas do Basil, indicam que cerca de 32,5% do eleitorado brasileiro não escolhe seu candidato por alinhamento programático, mas por considerar a alternativa “menos pior”. Esse grupo, que é numeroso, volátil e decisivo, tende a definir o resultado da próxima eleição. Segundo o CEO da Alfa, Emanoelton Borges, compreender o comportamento desse eleitor será fundamental para qualquer campanha competitiva em 2026.
De acordo com o especialista, esse eleitor é altamente sensível a temas do cotidiano e reage menos a discursos ideológicos. “Há um grupo expressivo que quer estabilidade, previsibilidade e respostas objetivas para problemas concretos. Eles não se reconhecem plenamente em nenhum dos polos políticos, mas rejeitam fortemente um deles e acabam votando por exclusão. Esse movimento foi decisivo em 2022 e será ainda mais forte em 2026”, explica.
A análise da Alfa Inteligência mostra que o eleitor do “menos pior” se concentra sobretudo: nas regiões Sul e Sudeste, na classe média, entre jovens adultos, pequenos empreendedores e em segmentos evangélicos moderados, que não aderem integralmente a narrativas de confronto. Esse público costuma decidir tardiamente, acompanha debates com olhar crítico e demonstra pouco engajamento emocional com candidatos. Borges destaca que esse comportamento exige estratégias eleitorais mais técnicas e menos polarizadas. “Estamos diante de um eleitor que não quer guerra cultural; ele quer solução. Ele transcende bolhas ideológicas e busca resultados palpáveis, especialmente em áreas como segurança, saúde, economia e educação”, reforça.
A Alfa Inteligência aponta que a segurança pública deve assumir protagonismo na campanha presidencial. O avanço da criminalidade urbana, a sensação crescente de medo e a percepção de incapacidade do Estado para garantir proteção devem impulsionar o tema ao centro do debate nacional. Em seguida, aparecem: economia, sobretudo inflação percebida e renda real; saúde pública, ainda influenciada pelos impactos pós-pandemia; educação, com preocupação crescente entre famílias de classe média. “Quem conseguir traduzir propostas claras nesses quatro eixos, com narrativa coerente e capacidade de execução, sairá na frente. A disputa será menos sobre identidade partidária e mais sobre entrega”, ressalta Emanoelton.
Eleitor mais monitorado da história
Com tecnologia, plataformas de escuta contínua e análises de comportamento mais precisas, Borges avalia que 2026 será a eleição com o maior volume de monitoramento já realizado no Brasil. Isso torna o ambiente ainda mais dinâmico e mais desafiador. “O eleitor de hoje muda de opinião mais rápido do que as campanhas conseguem perceber. Por isso, pesquisas qualificadas e diagnósticos constantes se tornam indispensáveis. Não se trata apenas de medir intenção de voto, mas de entender sentimento, rejeição, expectativas e frustrações. Quem conseguir ler essas curvas com precisão, vence”, completa o especialista.



