Análise das opções do bloco sul-americano após a cúpula em Foz do Iguaçu.

A cúpula do Mercosul de 2025 revela tensões políticas e desafios econômicos diante da incerteza no acordo com a UE.

A recente cúpula do Mercosul, realizada em 20 de dezembro de 2025 em Foz do Iguaçu, deixou claro o clima de frustração entre os líderes do bloco. A expectativa de assinatura do acordo de livre comércio com a União Europeia não se concretizou, o que levanta incertezas sobre o futuro econômico do Mercosul. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado dos presidentes da Argentina, Uruguai e Paraguai, expressou a urgência de resolver a situação, mas as divergências políticas se tornaram evidentes, especialmente em relação ao manejo da crise na Venezuela.

Desentendimentos e tensões

Durante a cúpula, Lula enfatizou que uma intervenção militar na Venezuela seria desastrosa, enquanto o presidente argentino, Javier Milei, adotou um tom beligerante ao criticar o regime venezuelano. Essa troca de farpas ilustra a crescente polarização política na América do Sul, onde as lideranças de esquerda e direita tentam posicionar seus países em um cenário global cada vez mais conturbado.

A falta de um consenso entre os líderes sobre como lidar com a Venezuela e o impasse nas negociações com a UE refletem um Mercosul dividido, que pode ver suas chances de expansão comercial seriamente comprometidas. Especialistas apontam que, caso o acordo com a UE não seja firmado, o agronegócio brasileiro, que já possui uma forte presença em mercados asiáticos, pode se manter estável. No entanto, a indústria, que esperava benefícios substanciais com o acordo, pode enfrentar dificuldades em termos de acesso a cadeias globais de valor e investimentos.

O que está em jogo?

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio do Brasil indicam que a indústria poderia ser o setor mais beneficiado em um horizonte de 20 anos, com um aumento significativo nas exportações para a UE. A ausência de um acordo, portanto, não é apenas um revés político, mas também um golpe econômico que pode afetar a capacidade do Brasil de competir globalmente.

Além disso, as relações comerciais intrabloco do Mercosul são significativamente menores do que as observadas em outras regiões, como a União Europeia. A embaixadora Gisela Padovan ressaltou que apenas 11% do comércio total da região ocorre entre os países do Mercosul, um dado que revela a necessidade urgente de fomentar o comércio interno, principalmente entre micro e pequenas empresas.

Novas frentes comerciais

Apesar das tensões, o Mercosul não está parado. O bloco tem buscado diversificar suas parcerias comerciais, incluindo a assinatura de um acordo com Singapura e negociações com países da EFTA, além de discussões com Emirados Árabes, Canadá, Japão e outros. Essas iniciativas buscam reduzir a dependência do mercado chinês e explorar novas oportunidades de investimento.

A análise de Vinícius Vieira, professor da FAAP, sugere que o fortalecimento de laços comerciais com países fora da Europa pode ser uma estratégia viável para mitigar os impactos da falta de um acordo com a UE. À medida que o bloco sul-americano navega por essas águas turbulentas, os desafios se acumulam, mas também surgem oportunidades que poderão moldar o futuro do Mercosul.

Conclusão

Em suma, o Mercosul enfrenta um momento crítico. Com as divergências internas e a incerteza sobre as negociações com a União Europeia, o bloco precisa agir rapidamente para fortalecer sua posição no cenário global e garantir que as expectativas de seus países-membros sejam atendidas. O futuro do Mercosul dependerá não apenas de acordos comerciais, mas também da capacidade de seus líderes de encontrar um terreno comum em questões políticas e econômicas.

Fonte: www.metropoles.com

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