O novo exame nacional para médicos: necessidade ou apenas mais um custo?

Por Dra Carolina Capuruco e jornalista Pedro Ernesto Macedo

A partir de 2026, médicos que iniciarem a graduação em medicina passarão a enfrentar uma nova exigência para exercer a profissão: o Profimed, Exame Nacional de Proficiência em Medicina. A aprovação será condição obrigatória para obtenção do registro no Conselho Federal de Medicina (CFM).

As regras, prazos e critérios do exame já foram amplamente divulgados. O que ainda merece reflexão, porém, é a razão pela qual esse exame se tornou necessário.

Nas últimas quatro décadas, o Brasil assistiu a um crescimento expressivo no número de faculdades de medicina — crescimento que se intensificou de forma significativa nos últimos dez anos. Nesse período, quase 200 novos cursos foram abertos, número semelhante ao total criado ao longo de aproximadamente dois séculos. A maioria dessas instituições pertence à iniciativa privada, e muitas delas foram autorizadas por decisões judiciais, sem atender plenamente às exigências técnicas do Ministério da Educação.

Como consequência, o país passou a formar cerca de 50 mil novos médicos por ano. Hoje, estima-se que existam aproximadamente 600 mil médicos em atividade no Brasil. Esse aumento contribuiu para ampliar o acesso da população aos serviços de saúde. No entanto, surge uma questão essencial: essa expansão foi acompanhada pela mesma qualidade na formação?

É legítimo perguntar se gostaríamos de ser atendidos por qualquer médico, independentemente da instituição onde se formou ou do nível de preparo técnico que recebeu. Não por acaso, à medida que o número de profissionais cresceu, também aumentaram os relatos e queixas relacionadas a condutas inadequadas.

Diante desse cenário, vale refletir: é melhor ter mais médicos em números absolutos ou menos médicos, desde que todos tenham passado por uma avaliação que comprove conhecimentos mínimos e preparo adequado para o exercício da profissão?

Com quase três décadas de vivência na medicina, é possível observar de perto a inserção cada vez mais precoce dos recém-formados no mercado de trabalho, além das mudanças geracionais na formação profissional. Sob essa perspectiva, o Profimed — muitas vezes comparado ao exame da OAB para advogados — não deve ser visto como um custo adicional, mas como uma medida necessária para garantir segurança e qualidade no atendimento.

O cenário ideal seria a expansão do número de faculdades com manutenção rigorosa da qualidade do ensino, professores bem qualificados e ampla formação prática. Enquanto essa realidade não se consolida, o exame de proficiência surge como uma ferramenta de proteção ao paciente e à própria profissão médica.

É fundamental lembrar que a medicina não é uma atividade comum. Trata-se de uma profissão que lida diretamente com vidas, do início ao fim. Um erro não pode ser simplesmente corrigido ou desfeito. As consequências atingem não apenas o paciente, mas famílias inteiras.

Por isso, não cabe à sociedade aceitar que a assistência médica seja prestada por profissionais que ainda não estejam plenamente preparados. O exercício da medicina exige estudo contínuo, prática responsável e compromisso ético. Garantir que apenas profissionais capacitados tenham acesso à profissão é uma medida de respeito à vida e à saúde de todos.

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