Quatro décadas separam a invasão israelense do Líbano em 1982 do atual conflito em Gaza, desencadeado pelo ataque do Hamas em outubro de 2023. A incursão no Líbano, iniciada em 6 de junho daquele ano, arrastou-se até o ano 2000, mesmo com tréguas e períodos de relativa calma. A escalada em Gaza reacende debates sobre as estratégias e consequências das operações militares israelenses em territórios vizinhos.
As diferenças geográficas e políticas entre os dois episódios são inegáveis. Contudo, emergem semelhanças inquietantes: o uso massivo da força militar, o elevado número de vítimas civis e a ambição de desmantelar grupos armados considerados ameaças existenciais por Israel. Ambos os conflitos refletem a complexa dinâmica regional e os desafios persistentes na busca por segurança e estabilidade.
A invasão do Líbano em 1982 foi oficialmente motivada por um atentado contra o embaixador de Israel no Reino Unido, atribuído ao grupo palestino dissidente Abu Nidal. O ataque em Londres, que quase custou a vida do embaixador Shlomo Argov, serviu de catalisador para uma ampla ofensiva contra a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), liderada por Yasser Arafat e atuante no sul do Líbano.
Israel justificou a ação como necessária para remover a OLP de sua fronteira norte e instalar um governo libanês mais favorável. A intenção era neutralizar as incursões de militantes palestinos em território israelense, em uma escalada que já havia motivado uma operação de menor escala em 1978. A Operação Paz para a Galileia, liderada por Menachem Begin e Ariel Sharon, marcou uma nova fase no conflito israelo-palestino.
Em Gaza, a ofensiva israelense foi desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que resultou na morte de cerca de 1.200 pessoas em Israel e no sequestro de centenas de reféns. A resposta militar, com o objetivo declarado de destruir o Hamas e resgatar os reféns, configura-se como a operação israelense mais intensa desde 1982.
Ambos os conflitos deixaram um rastro de destruição e sofrimento. No Líbano, estima-se que entre 17 mil e 19 mil pessoas, a maioria civis, perderam a vida. O massacre de Sabra e Shatila, perpetrado por milícias cristãs aliadas de Israel, permanece como um dos episódios mais sombrios da guerra.
A presença israelense no Líbano também acelerou o surgimento do Hezbollah, grupo xiita que se tornaria o principal antagonista de Israel na região. Em Gaza, a guerra já causou a morte de milhares de palestinos, muitos deles membros do Hamas, e devastou a infraestrutura local, com um grande número de casas danificadas e um deslocamento interno massivo.
“Tanto em 1982 quanto na atual entrada em Gaza, Israel justificou suas ações com base na legítima defesa e na necessidade de eliminar ameaças armadas próximas ao seu território”, reporta a Revista Oeste. Em ambos os casos, os alvos foram grupos palestinos com estruturas militares e aspirações políticas.
A diferença crucial reside na natureza dos grupos combatentes. A OLP, no Líbano, possuía um caráter laico, enquanto o Hamas, em Gaza, adota uma interpretação radical do Islã e pertence à ala sunita dos muçulmanos. O futuro de Gaza permanece incerto, mas autoridades americanas e israelenses já enfatizaram a importância do “Day After” para evitar novos ciclos de violência e radicalização.
Fonte: http://revistaoeste.com