A música, uma arte que transcende gerações, promove a fusão de culturas e, através dessa união, expressa múltiplas ancestralidades. No contexto da música black brasileira, a influência de diversos países, especialmente do continente africano, é notável. Nos anos 1980, a ativista e intelectual Lélia Gonzalez cunhou o termo “amefricanidade” para representar as raízes do povo negro, conectando-o tanto aos povos africanos quanto aos ameríndios.
Durante o festival João Rock, realizado em Ribeirão Preto, Russo Passapusso, vocalista do Baianasystem, resgatou o conceito de Lélia Gonzalez, enfatizando sua importância na construção da música nacional. Ele também destacou como esse movimento une diferentes gerações, o que ficou evidente no próprio festival, que reuniu artistas de épocas distintas, como Seu Jorge e Tony Tornado, ambos nomes marcantes na história da música brasileira.
“Existe um passado que o futuro ainda não alcançou”, declarou Russo Passapusso, ressaltando a importância da cultura viva e da unificação do Brasil através da música. Ele enfatizou que a música black e as fusões brasileiras carregam os gritos dos movimentos sociais e representam uma cultura de amefricanidade, inspirada em figuras como Lélia Gonzalez.
O conceito de amefricanidade foi a inspiração para o novo show do Baianasystem, o “Lundu Rock Show”, que estreou no João Rock. Segundo Russo, o show é um grito da África, onde a cultura portuguesa não desapareceu, mas precisou se adaptar às manifestações culturais do Brasil, resultando no Lundu.
Para Russo Passapusso, a apresentação no João Rock proporcionou uma troca intensa entre o público e a banda, mostrando a essência mutante do palco, diferente da estática de um álbum. “Estar junto de um Tony Tornado é revelar o mar de gente no nosso peito cada vez mais se mexendo. Isso é imortal”, concluiu, refletindo sobre o papel da cultura na conexão entre passado e futuro.
Fonte: http://www.metropoles.com