A investigação sobre a chamada “Abin Paralela” ganha novos contornos com a divulgação do inquérito, antes sob sigilo, por ordem do ministro Alexandre de Moraes do STF. A medida visa evitar a disseminação de informações distorcidas sobre o caso, após vazamentos seletivos. A suspeita é que a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi utilizada de forma clandestina para proteger os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro e perseguir seus opositores.
As apurações da Polícia Federal (PF) apontam para uma organização que teria se aproveitado da Abin para fins políticos, utilizando inclusive o software israelense First Mile, adquirido durante o governo Michel Temer. A ferramenta, capaz de rastrear deslocamentos e encontros, teria sido peça chave no esquema de espionagem.
Segundo a PF, Jair Renan, Flávio e Carlos Bolsonaro foram supostamente beneficiados pelas ações da “Abin Paralela”. As investigações revelam desde tentativas de obstruir o trabalho da Polícia Federal até a perseguição de servidores da Receita Federal. O caso já resultou no indiciamento de 34 pessoas.
Embora o ex-presidente Bolsonaro não figure entre os indiciados, ele é apontado como o principal beneficiário das ações clandestinas e da instrumentalização da Abin. A corporação destaca que “as ações eram realizadas para obtenção de vantagens precipuamente do núcleo político, com ataques direcionados a adversários e ao sistema eleitoral”.
O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), um dos indiciados, é apontado como o principal destinatário e beneficiário das informações coletadas ilegalmente. Segundo o inquérito, ele recebia dados sobre investigações em curso que pudessem atingir o núcleo político ou familiar. A investigação aponta que uma assessora de Carlos solicitou ajuda a Alexandre Ramagem em inquéritos envolvendo o então presidente e seus filhos.
A PF também investiga a suposta interferência da “Abin Paralela” em uma apuração que envolvia Jair Renan Bolsonaro. A suspeita era que o filho do ex-presidente teria atuado para favorecer empresários de uma construtora em troca de vantagens. A ação da Abin, segundo o inquérito, frustrou a coleta de provas pela Polícia Federal.
De acordo com a PF, a ação de contrainteligência para neutralizar a investigação da Polícia Federal foi determinada pelo Gabinete de Segurança Institucional do Palácio do Planalto, chefiado pelo General Augusto Heleno, ao então diretor Alexandre Ramagem Rodrigues.
No caso de Flávio Bolsonaro, a investigação aponta que a “Abin Paralela” atuou para desacreditar servidores da Receita Federal que investigavam possíveis fraudes fiscais envolvendo o senador. As ações contaram com o apoio do Sindicato dos Servidores da Receita Federal do Brasil (Sindifisco), que abriu um procedimento administrativo para expulsar os auditores do sindicato.
Fonte: http://www.metropoles.com