A estreia do filme “Homem com H”, que retrata a vida e a carreira de Ney Matogrosso, reacendeu memórias do cantor sobre a complexa relação com seu pai, um militar de postura rígida. Em entrevista recente ao programa Sem Censura, Ney compartilhou momentos dolorosos e transformadores dessa ligação, marcada por repressão e, eventualmente, perdão. A história ganhou destaque nas redes sociais, impulsionada pela repercussão do filme.
Desde a infância, o talento artístico de Ney foi alvo de resistência paterna. Ao expressar o desejo de estudar pintura, ouviu a resposta categórica: “Filho meu não vai ser artista”. A repressão se intensificou na adolescência, culminando em um episódio alarmante em Campo Grande (MS), onde a família vivia em uma vila militar. Após desobedecer uma punição, Ney foi alertado de que o pai o procurava armado.
“Ele foi pra guerra, eu não ia enfrentar uma arma”, relembrou Ney, evidenciando o temor que sentia. A relação era pautada por confrontos, como quando, aos 17 anos, o cantor enfrentou o pai com a frase: “Eu não te respeito, tenho medo de você. Mas medo passa”. Ney também revelou que apanhava tanto do pai que os vizinhos gritavam. “Ele queria que eu chorasse, e eu não chorava. Minha mãe jogava um espanador e eu chorava, mas pra ele, não.”
A transformação nesse cenário hostil começou anos depois, em São Paulo. Já independente, Ney se deparava com a incompreensão do pai em relação às suas escolhas de vida. “Ele dizia: ‘Volta pra casa, eu te arranjo um emprego’. Eu dizia: ‘Não quero. Sou dono da minha vida.’”, recorda o artista. O ponto de virada ocorreu aos 27 anos, durante uma despedida em frente ao antigo prédio do jornal Estadão.
Ney, habituado a beijar os amigos, teve um gesto instintivo com o pai. “Foi instintivo. Era meu pai. E aquilo mudou tudo.” A partir desse beijo, um afeto antes reprimido floresceu, transformando a dinâmica familiar. Nos anos finais de vida do pai, diagnosticado com câncer de pulmão, Ney dedicou-se aos cuidados, comprando sorvete e conversando com ele. Nesse período, o pai reconheceu a dureza com que criou os filhos e pediu perdão, selando a reconciliação. “Imagina, eu cuidava dele. Não guardei ressentimento. Era meu pai, antes de tudo.”, finaliza Ney.
Fonte: http://www.metropoles.com