Os recentes acontecimentos no Oriente Médio trouxeram à tona discussões sobre a complexidade da região, frequentemente reduzida aos termos “muçulmano” e “árabe”. Essa simplificação ignora a rica diversidade de povos e culturas que compõem essa área do globo, levando a generalizações imprecisas. É crucial entender que nem todo habitante do Oriente Médio é árabe, nem todo árabe é muçulmano, e nem todo muçulmano reside no Oriente Médio.
As fronteiras do Oriente Médio são, por si só, um tema de debate. Dependendo da fonte, a região pode abranger até 20 países. O Irã, por exemplo, é invariavelmente incluído, apesar de sua população ser majoritariamente persa, descendente do povo que remonta ao rei Xerxes, imortalizado no cinema. A antiga Pérsia, que adotou o nome Irã em 1935, exemplifica a diversidade étnica e cultural da região.
Apesar da predominância do Islã em muitos países do Oriente Médio, existem importantes exceções. Israel, com sua maioria judaica, é um caso notório. Essa diferença religiosa, inclusive, é um dos fatores que alimentam o conflito com a Palestina, que compreende a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, esta última sob o controle do grupo terrorista Hamas.
Dentro das fronteiras israelenses, observa-se um sistema democrático com influências ocidentais, incluindo liberdade religiosa e tolerância, evidenciada pela realização da única parada gay do Oriente Médio. Essa realidade contrasta com outras áreas da região, onde a tolerância religiosa e social pode ser significativamente menor.
Dos 14 países que compõem o Oriente Médio segundo a CIA, 13 possuem maioria muçulmana: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar, Kuwait, Bahrein, Omã, Iêmen, Irã, Iraque, Síria, Líbano, Jordânia e Turquia. Contudo, é importante notar que, além do Irã e Israel, a Turquia também se destaca por não ser um país árabe, sendo sua população de origem turca.
Essa complexidade cultural muitas vezes se perde em simplificações, como a comum confusão no Brasil de chamar descendentes de imigrantes do Oriente Médio de “turcos”. Essa generalização tem raízes no Império Turco-Otomano, que por séculos dominou vastas áreas da região, tendo Istambul, a única cidade do mundo em dois continentes, como sua capital.
Curiosamente, muitos imigrantes do Oriente Médio que se estabeleceram no Brasil não eram turcos, mas sim libaneses, muitos deles cristãos ou judeus. O ex-presidente Michel Temer, por exemplo, é descendente de católicos maronitas do Líbano, onde, apesar da maioria muçulmana, o cargo de presidente é tradicionalmente ocupado por um cristão maronita.
A Arábia Saudita, berço do Islã, apresenta um modelo político singular: uma monarquia absolutista comandada pela família Saud, que exerce tanto o poder governamental quanto o controle sobre vastos recursos naturais. Essa nação se tornou uma importante aliada dos Estados Unidos, assim como Israel, embora por razões distintas.
A aliança entre os EUA e Israel se baseia, em grande parte, em valores e afinidades culturais ocidentais. Já o relacionamento com a Arábia Saudita é fortemente influenciado pelas vastas reservas de petróleo do país, um recurso estratégico de grande importância para a economia global.
A Arábia Saudita também exerce um papel central no mundo islâmico por abrigar Meca, a cidade mais sagrada para os muçulmanos. Lá está a Caaba, local onde, segundo a tradição, Abraão construiu o primeiro altar para Alá, e para onde todos os muçulmanos se voltam em suas orações, buscando visitá-la ao menos uma vez na vida.
O Oriente Médio, com seus 400 milhões de habitantes, abriga uma diversidade de povos e culturas que transcendem as generalizações sobre árabes e muçulmanos. O mundo islâmico, por sua vez, é ainda maior, com 1,5 bilhão de pessoas, espalhadas por todo o globo, incluindo países como China e Índia, onde milhões de muçulmanos não são nem árabes, nem iranianos.
Fonte: http://revistaoeste.com
