Manutenção da taxa básica em dois dígitos pressiona crédito, muda comportamento de investidores e amplia disputa entre renda fixa e renda variável
A permanência da taxa Selic em 15% ao ano, e as sinalizações do Banco Central de que os juros podem seguir nesse patamar por mais tempo do que o inicialmente previsto, reacendem debates sobre os impactos do juro elevado na economia brasileira e nos rumos do mercado financeiro. De um lado, os efeitos já são visíveis: o crédito às famílias e empresas encareceu, a atividade econômica dá sinais de desaceleração, e o apetite por risco entre investidores diminuiu. Por outro, a taxa elevada cria uma janela rara para travar rentabilidades expressivas em ativos de renda fixa, inclusive em aplicações de baixo risco.
Segundo Samira Munaier, Planejadora Financeira CFP® e Private Banker da Monte Bravo Corretora de Investimentos, o cenário exige leitura estratégica, especialmente diante da expectativa de que o atual ciclo de juros não dure para sempre. “Com a Selic alta, há uma tendência de concentração em investimentos pós-fixados atrelados ao CDI. Mas é justamente agora que o investidor, mesmo o conservador, precisa considerar ativos de prazo mais longo, como os indexados à inflação ou prefixados, aproveitando as taxas mais atrativas antes que comecem a cair”, explica a especialista.
A renda fixa voltou ao centro da carteira dos brasileiros. Dados da ANBIMA mostram que os investimentos nessa classe cresceram significativamente desde 2021, impulsionados pela alta dos juros. No entanto, Samira faz um alerta: priorizar apenas o ganho imediato pode ser um erro estratégico. “Muitos acreditam que só o CDI é seguro. Mas quando a Selic recuar, e ela vai recuar, quem travou boas taxas agora estará protegido. Quem não se preparou, ficará limitado às opções com retornos menores”, destaca.
Com os juros em dois dígitos, o custo do crédito também impacta empresas e consumidores. Para o setor produtivo, isso significa mais dificuldade em financiar expansão. Para o consumidor, financiamentos e compras a prazo ficam menos viáveis, o que pressiona o varejo e pode reduzir o consumo. A permanência da Selic elevada também tem relação direta com o ambiente fiscal. “As incertezas sobre a sustentabilidade das contas públicas, somadas ao cenário internacional mais volátil, como as eleições nos EUA e oscilações nas economias emergentes, dificultam cortes mais agressivos”, avalia Samira.
Oportunidades existem, mesmo na turbulência
Apesar das incertezas, o mercado financeiro segue oferecendo alternativas para quem deseja preservar ou rentabilizar o patrimônio. A chave, segundo a especialista, está no planejamento e na escolha do momento certo. “Não existe momento perfeito de mercado. O que existe é entender o contexto, mapear objetivos e buscar ativos coerentes com o perfil e o horizonte de cada investidor. Quem esperar a estabilidade para investir vai sempre chegar atrasado”, conclui.