A Polícia Federal encontrou anotações na agenda do general Augusto Heleno, ex-ministro do GSI, que indicam o monitoramento do ex-deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) pela suposta “Abin paralela”. Os registros, acessados com exclusividade pela CNN, também mencionam outros políticos e levantam questões sobre o uso da agência para fins políticos.
As anotações descrevem Vicente Cândido como o “novo Vaccari”, em referência ao ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, que foi preso na Operação Lava Jato. A comparação sugere uma possível investigação ou vigilância sobre as atividades financeiras ou políticas do ex-deputado.
O texto manuscrito na agenda de Heleno inclui a frase: “Falar com PR [presidente]. Vicente Cândido é o novo Vaccari. ABIN está de olho nele”. Outros nomes como José Eduardo Cardozo e Alexandre Padilha também aparecem na mesma página, juntamente com as expressões “bunker em São Paulo” e “braço em Brasília”, sem maiores detalhes. A anotação indica que o assunto deveria ser discutido com o então presidente da República.
A agenda também continha a frase “Aras se aproximou da Abin”, referindo-se ao então procurador-geral da República, Augusto Aras, além de uma menção de que “a PF [Polícia Federal está] preparando uma sacanagem grande”, sem especificar a que se referia. A ausência de datas nas anotações dificulta a determinação do período exato em que foram feitas.
Documentos apreendidos indicam ainda uma preocupação com o período eleitoral e possíveis circunstâncias que poderiam prejudicar a campanha de Jair Bolsonaro. Entre as informações, constava a possibilidade de atuação de grupos de manifestantes chilenos no Brasil e uma lista de pessoas e organizações ligadas ao PT que, segundo as anotações, não teriam interesse na vitória de um aliado de Trump no Brasil.
Embora Heleno fosse o superior hierárquico da Abin, a Polícia Federal optou por não indiciá-lo na investigação sobre o uso da agência para fins pessoais e políticos. A CNN procurou a defesa do general e os demais citados para obter esclarecimentos, mas não obteve resposta até o momento.
Além da investigação sobre a Abin paralela, Heleno é réu em uma ação penal que o aponta como parte do “núcleo crucial” da tentativa de golpe contra o resultado das eleições de 2022. A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa Heleno de auxiliar Jair Bolsonaro na disseminação de mensagens que questionavam a segurança do sistema eleitoral brasileiro.
De acordo com a denúncia da PGR, Heleno, em alinhamento com Alexandre Ramagem, então diretor-geral da Abin, possuía documentos com orientações para que Bolsonaro desrespeitasse ordens do Supremo Tribunal Federal (STF). A denúncia descreve que as anotações previam a “prisão em flagrante” da autoridade policial que se dispusesse a cumprir decisões judiciais consideradas ilegais pela organização criminosa.
A PGR também afirma que Heleno tinha “pleno domínio sobre as ações clandestinas” da Abin paralela, uma vez que o órgão estava subordinado ao GSI. Heleno foi denunciado por organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e outros crimes.