O Cais do Valongo, testemunha sombria do tráfico negreiro e considerado o maior porto de entrada de africanos escravizados na América Latina, ascendeu ao reconhecimento máximo: tornou-se Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. A decisão consagra a importância histórica e cultural do sítio arqueológico, localizado na zona portuária do Rio de Janeiro, descoberto em 2011 durante as obras do projeto Porto Maravilha.
O reconhecimento pela Unesco não é o único selo de importância do Cais do Valongo. A Lei nº 15.203, sancionada recentemente, também o reconhece como patrimônio histórico-cultural afro-brasileiro, sublinhando sua importância fundamental na formação da identidade nacional. A legislação estabelece diretrizes rigorosas para a proteção do local, garantindo o respeito às manifestações culturais afro-brasileiras e a preservação dos artefatos ali encontrados.
As estimativas apontam que cerca de 1 milhão de africanos escravizados desembarcaram no Cais do Valongo, construído em 1811 e posteriormente aterrado em 1911. Sua redescoberta, um século depois, revelou um passado doloroso, mas essencial para a compreensão da diáspora africana. “O Cais do Valongo é um local de preservação da memória, com valor extraordinário para toda a humanidade”, afirma o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Desde 2018, o Cais do Valongo já era considerado Patrimônio Mundial pela Unesco. A inclusão na lista se deu em virtude do critério VI do Guia para a Implementação da Convenção do Patrimônio Mundial, que destaca a ligação do local a acontecimentos e tradições vivas, ideias ou crenças de significação universal excepcional.
Para a Unesco, o Cais do Valongo é mais do que um sítio arqueológico; é um espaço de memória sensível. Suas ruínas evocam a dor e a luta pela sobrevivência dos antepassados afrodescendentes, que representam hoje mais da metade da população brasileira, e deixaram marcas profundas nas sociedades de outros países da América.