Após 49 anos, Argentina identifica corpo de pianista brasileiro desaparecido durante ditadura

Quase meio século após seu desaparecimento, o corpo do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior foi identificado na Argentina pela Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF), revelaram autoridades neste sábado (13/9). O músico sumiu em 18 de março de 1976, depois de deixar o Hotel Normandie, no coração de Buenos Aires, um caso que ecoa as sombras da ditadura argentina.

A identificação foi possível graças à análise das impressões digitais, conforme informações divulgadas pela EAAF. Embora o corpo em si não tenha sido recuperado, a investigação apurou que Tenório Júnior foi sepultado no cemitério de Benavídez, na capital argentina, encerrando décadas de incertezas para sua família e amigos.

Na época de seu desaparecimento, Tenório Júnior, então com 35 anos, estava em Buenos Aires para acompanhar Vinícius de Moraes e Toquinho em uma turnê. O desaparecimento ocorreu dias antes do golpe militar que depôs a presidente Isabelita Perón, mergulhando o país em um período de repressão e violência.

Segundo o governo argentino, dois dias após o desaparecimento, um corpo foi encontrado em um terreno baldio na Rua Belgrano, no bairro Tigre. Iniciou-se, então, um processo de identificação com coleta de impressões digitais e autópsia, mas o corpo acabou sendo enterrado como “não identificado” em Benavídez.

A retomada da investigação, anos depois, pela Procuradoria de Crimes Contra a Humanidade, focou em processos judiciais iniciados na província de Buenos Aires entre 1975 e 1983. Essas ações envolviam cadáveres não identificados encontrados em locais públicos, com o objetivo de catalogar as vítimas da repressão estatal durante a ditadura argentina.

A Câmara Federal de Recurso Criminal e Correcional da Capital Federal ordenou a comparação das impressões digitais do dossiê de 1976 com as de Tenório Júnior, que estavam arquivadas no Brasil. A Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) e o procurador Ivan Marx, conselheiro da Comissão, notificaram a família sobre a confirmação da identidade.

A Comissão Nacional da Verdade, no Brasil, já havia iniciado uma investigação em 2013, a pedido da família, para tentar localizar os restos mortais do músico. Na época do desaparecimento, Tenório Júnior deixou sua esposa, Carmen Cerqueira, grávida de oito meses, além de outros quatro filhos, marcando uma tragédia familiar profundamente ligada aos horrores da ditadura.

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