A era dos generalistas: por que os profissionais multifacetados estão substituindo os especialistas no novo mercado de trabalho

72% das empresas valorizam profissionais que combinam repertórios diversos e aprendem com rapidez

Durante décadas, o sucesso profissional esteve ligado à especialização extrema, mas essa lógica está sendo redesenhada à medida que a inteligência artificial assume tarefas antes reservadas a especialistas. Estudo da LinkedIn Global Trends 2025 aponta que 72% das empresas afirmam valorizar mais profissionais com perfil adaptável e multifuncional do que especialistas técnicos. O dado revela uma transformação profunda no mercado de trabalho, com a morte simbólica dos especialistas e a ascensão dos generalistas, mostrando que em um mundo automatizado, o diferencial não está mais apenas na profundidade técnica, mas na capacidade de cruzar repertórios e combinar experiências de forma criativa e eficaz.

“Estamos vendo um deslocamento de valor: o que antes estava concentrado em quem dominava profundamente um único tema, hoje migra para quem tem repertório amplo e consegue conectar diferentes áreas do conhecimento”, explica o consultor de carreira e diretor acadêmico da ESIC Internacional, Alexandre Weiler. Para ele, o profissional do futuro é aquele que entende a linguagem de múltiplos setores e consegue aplicar aprendizados de um contexto em outro. “O mercado demanda pessoas que aprendem rápido, que pensam de maneira transversal e que não se limitam a um cargo ou a uma caixinha de atuação”, complementa.

Weiler reforça que essa versatilidade é o que garante empregabilidade e longevidade profissional. “O generalista não tenta ser especialista em tudo, mas sabe o suficiente em várias áreas para propor soluções que nenhum especialista isolado seria capaz de criar. Essa capacidade de integrar saberes distintos é a grande vantagem competitiva no cenário atual”, afirma. Para ele, a curiosidade e a habilidade de conectar experiências se tornam ativos estratégicos, protegendo o profissional da obsolescência e tornando-o indispensável em contextos imprevisíveis.

Skill stacking

Esse fenômeno, conhecido como também como skill stacking, combina múltiplas competências e cria perfis profissionais únicos e mais completos, com uma lógica de que quanto mais áreas uma pessoa entende, maior sua capacidade de propor soluções inovadoras. “O valor não está em dominar cada habilidade de forma isolada, mas em saber integrá-las. Um profissional que entende de comunicação, tecnologia e comportamento humano, por exemplo, é capaz de propor soluções que um especialista puro dificilmente enxergaria. É essa combinação de saberes que tem feito os generalistas se tornarem protagonistas em ambientes corporativos complexos, especialmente em setores que exigem criatividade e inovação contínua”, observa Weiler.

O impacto dessa mudança também se reflete na forma como as pessoas constroem suas carreiras. Se antes a trajetória era linear, com faculdade, especialização e ascensão, agora o caminho é fluido, experimental e plural. Para Weiler, ser generalista não significa ser superficial, mas ter repertório suficiente para cruzar fronteiras. “O generalista tem uma vantagem estratégica: ele não depende de um único setor ou de um único saber. Essa flexibilidade o torna mais preparado para mudanças e crises, além de mais interessante para o mercado, que precisa de pessoas com visão ampla e pensamento sistêmico”, destaca o consultor.

A curiosidade como desenvolvimento profissional

A curiosidade, segundo Weiler, é a nova força motriz do desenvolvimento profissional, pois ela impulsiona a aprendizagem contínua e ajuda a conectar vivências aparentemente desconexas. “A inteligência artificial pode ser mais veloz ou precisa em tarefas específicas, mas nenhuma máquina tem a mesma combinação de vivências, intuições e saberes que o ser humano acumula ao longo da vida. É essa mistura que protege contra a obsolescência. Em um contexto em que algoritmos superam especialistas técnicos, o generalista encontra brechas criativas e se torna indispensável ao conectar ideias de diferentes mundos”, analisa o consultor.

Weiler conclui reforçando que o futuro do trabalho não será definido apenas pelo que sabemos, mas pela velocidade com que conseguimos aprender algo novo e como aplicamos esse conhecimento de forma prática. “Enquanto o especialista vê as árvores, o generalista enxerga a floresta inteira, os caminhos entre uma e outra e as pontes que ainda não foram imaginadas. Esse olhar múltiplo é o que vai sustentar a relevância humana nos próximos anos”, finaliza.

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